sábado, 9 de maio de 2009
Lembrar-te, é amar os corpos que partilhamos. O que me atrai em ti pertence à sabedoria do texto, à primeira palavra murmurada. O que me atrai no amor é a indeterminação, o impulso inicial. Os rostos que amei na tua ausência foram tocados por ti através da minha pele. Ninguém pode esclarecer a sua alma à margem deste pacto. O nosso amor desfaz o trio.
É na treva que sou obrigada a reconhecer o que escrevo. Sucumbo a uma grave abstracção de pensamento donde chego a sair tocada pela invocação da palavra.
Isabel de Sá, oitavo livro, Escrevo Para Desistir, 1986, integrado em Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
NESSE TEMPO
Usar a liberdade de tudo dizer é ainda evocar a dúvida. O mundo não suporta a extrema delicadeza da fala poética. Mas o instinto gastou o nosso rosto, arrastou-nos para o mal. Nesse tempo, nesse tempo em que fomos amantes, a luz doirada do abismo fez-me cair na tentação. Não esqueço o teu olhar, a treva do teu corpo mergulhado na penumbra.
Ao enfrentar a experiência daquele que se arruína meu espírito dissolve-se na contradição. A matéria do texto é carnal e, enquanto estou só, sou alguém que está comigo.
Isabel de Sá, nono livro, O Duplo Dividido, 1989, integrado em Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
Ao destruir cada página multiplico dentro de mim as outras vozes. Fico consciente da sua existência e pergunto-me se valeu a pena. O sacrifício, noites de insónia, também a felicidade, reunidos em folhas num labor amante. "Escrevo, talvez, para manter a nascente aberta", diz-nos o poeta em cuja obra a palavra é pedra viva.
Entro na organização do dia pela sílaba clara e leve, busco na escuridão do livro o pensamento daqueles que erraram por caminhos semelhantes.
Isabel de Sá, oitavo livro, Escrevo para Desistir, 1986, integrado em Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
Adelino Moreira
o compositor da boémia
o compositor da boémia
Quando ouvimos Maria Bethânia a cantar Negue, ou Simone a pedir Fica Comigo Esta Noite, estamos longe de pensar que as letras destas canções de sucesso foram escritas por um homem nascido em Gondomar, que o Brasil homenageia como compositor romântico: Adelino Moreira, um português esquecido.
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