quinta-feira, 5 de maio de 2011
O MEU POETA PREFERIDO..
Estava ali por esse dia
Diante da janela, além
nos bancos de trás. Sorriu,
o ar ergueu-e em labirintos,
a tarde pousou-lhe na tez.
A cultura tornou-se um conflito
de desalento. No fim da aula
fomos tomar um café.
Diante dos outros tocava só
na sua chávena, no maço
dos cigarros, era o seu corpo
que eu queria atingir.
Não és real, eu não existo.
Raizes desertas do auriga.
De novo o perfume se sentava
sereno e moreno no lugar
ao meu lado do carro, ia
pela noite de verão até
à sua casa, crescia
para a porta por abrir.
E voltava-se e ria e pedia
um último beijo com as luzes
nos máximos para ninguém
nos ver. Os pés hesitam no
asfalto, as mãos remordem
a beira da janela.
Aí
olhava nos meus ombros
o peso do seu pior adeus.
Joaquim Manuel Magalhães
uma luz com um toldo vermelho, Editorial Presença, 1990
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