quarta-feira, 27 de abril de 2011

Poema de ALEXANDRE NAVE



Abrimos os tijolos um a um,

esticamos os músculos no calo

as fezes nos carregamentos

Sabemos os ossos infectados
na chapa quente, o chão batido na terra
a destapar-nos, os tijolos nos ombros
o pó fino a enfeitar-nos

olhamos nos olhos uns dos outros

morremos com a pátria nos pulmões.





Columbários & Sangradouros, Quasi Edições, 2003

Altares




Poema de ALEXANDRE NAVE


Senhora ao peito, hóstia na boca

cantam as mães virgens de deus
recolhem as flores dos mortos

as botas cardadas cabeças de cristo

benzem as orelhas uns dos outros
já a merda fere devotos no cu,

ficam puros entre os irmãos
a matrícula fria nos pescoços,

chegam raivosos queimados nos altares
vão com o dia defuntos ao terço


dias inteiros,

como deus caísse.

E deitam-se de peito a escutar,

descobrem no cu o buraco de deus.


Vão Cães Acesos pela Noite, Quasi Edições, 2006