sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Poema de Arthur Rimbaud
O QUE DORME NO VALE
É uma cova de verdura onde canta uma ribeira
Prendendo loucamente às ervas farrapos
De prata; nele brilha o sol, do alto da montanha
Orgulhosa: é um pequeno valado que espuma farpas.
Um soldado jovem, de boca aberta, cabeça nua,
E a nuca mergulhando nos frescos agriões azuis,
Dorme; está estendido na relva, a céu aberto,
Pálido no seu leito verde onde chove aluz.
Com os pés nos gladíolos, dorme. Sorrindo como
Sorriria uma criança doente, dorme um sono:
Natura, embala-o junto ao peito: ele está frio.
Não há perfume que faça estremecer suas narinas;
Dorme ao sol, a mão sobre o peito
Tranquilo. No lado direito, tem dois buracos vermelhos.
O RAPAZ RARO, iluminações e poemas, tradução de Maria Gabriela Llansol, Relógio D'Água, Lisboa, 1998
Com o corpo todo à espera
entro para a neblina.
Alameda vazia, silêncio.
Casas erguidas
para fazer um caminho.
Com o corpo todo à espera
chamo-te, sem saber o
nome, sem luz, sem imagem.
Fantasmas prolongam
os passos, adiam a casa.
Com o corpo todo à espera
silencio a vontade
de me aproximar, viver.
Respiro a humidade
do nevoeiro, sempre à espera.
JOÃO BORGES
AO VENTO EM TERRAMOTOS, edição cofre nocturno, Lisboa, 2011
entro para a neblina.
Alameda vazia, silêncio.
Casas erguidas
para fazer um caminho.
Com o corpo todo à espera
chamo-te, sem saber o
nome, sem luz, sem imagem.
Fantasmas prolongam
os passos, adiam a casa.
Com o corpo todo à espera
silencio a vontade
de me aproximar, viver.
Respiro a humidade
do nevoeiro, sempre à espera.
JOÃO BORGES
AO VENTO EM TERRAMOTOS, edição cofre nocturno, Lisboa, 2011
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