A MAÇÃ
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Dois Poemas de
JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
Quando o visitante, o inesperado rapaz
vindo duma noite distante, partir, partiu,
quem vai lembrar o pranto, o rasgão
da morte, o sangue correndo?
Eco de passos que não houve,
acordou a clara água das raízes
nuns dedos perdidos.
Ele, o despedido, aquele em quem ficamos
cantando os largos claros da noite,
os prédios encobertos de chuva imaginária.
Quem era, quem é? Foi um imprevisto
anúncio de pugna e foz lacustre,
de cardo matinal onde o amor corria.
O terror , rapaz rápido,
da tua sedução nessa despedida.
O visitante sai, saiu, virá um dia
preso do tempo que se rejeitou,
a voz fria, o encanto do desperdício.
JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
Quando o visitante, o inesperado rapaz
vindo duma noite distante, partir, partiu,
quem vai lembrar o pranto, o rasgão
da morte, o sangue correndo?
Eco de passos que não houve,
acordou a clara água das raízes
nuns dedos perdidos.
Ele, o despedido, aquele em quem ficamos
cantando os largos claros da noite,
os prédios encobertos de chuva imaginária.
Quem era, quem é? Foi um imprevisto
anúncio de pugna e foz lacustre,
de cardo matinal onde o amor corria.
O terror , rapaz rápido,
da tua sedução nessa despedida.
O visitante sai, saiu, virá um dia
preso do tempo que se rejeitou,
a voz fria, o encanto do desperdício.
Encontramos um amigo numa fonte
a água foge nos seus dedos, falamos-lhe.
Pomos a boca sobre a fria superfície
da sua pele onde bate o sol,
um canteiro incendiado de brandura.
Uma coragem cresce debruçada
para os seus olhos salinos contra nós.
Tem um sorriso, uma camisa aberta,
o peito um arco de respiração.
Lentamente afasta-se. Já não segura
o nosso despeito nem o nosso acordo.
Para esquecê-lo, nenhuma noite bastará.
A fonte secou, o caminho que seguimos foi devorado.
Na manhã os pássaros começam a sangrar.
Consequência do Lugar, Relógio d'água, 2001
a água foge nos seus dedos, falamos-lhe.
Pomos a boca sobre a fria superfície
da sua pele onde bate o sol,
um canteiro incendiado de brandura.
Uma coragem cresce debruçada
para os seus olhos salinos contra nós.
Tem um sorriso, uma camisa aberta,
o peito um arco de respiração.
Lentamente afasta-se. Já não segura
o nosso despeito nem o nosso acordo.
Para esquecê-lo, nenhuma noite bastará.
A fonte secou, o caminho que seguimos foi devorado.
Na manhã os pássaros começam a sangrar.
Consequência do Lugar, Relógio d'água, 2001
Joaquim Manuel Magalhães
Aqui fica a resposta a uma pergunta feita ao poeta numa entrevista, sobre a reunião de oito livros no volume CONSEQUÊNCIA DO LUGAR.
Aqui fica a resposta a uma pergunta feita ao poeta numa entrevista, sobre a reunião de oito livros no volume CONSEQUÊNCIA DO LUGAR.
Resposta - O resto não prestava. Há poetas que em novos sabem escrever, outros andam a ferver por dentro, mas têm de apagar o fogo para aprender a escrever melhor. Eu pertenço a estes segundos - como Kavafis, que foi mais radical ainda: rasgou mesmo tudo. Só que tinha tido a sorte de não ter publicado. Não me quero comparar com semelhantes magnitudes, mas Yeats fez o mesmo, Auden também. Uma das minhas grandes raivas contra o João Miguel, que desde os 17 anos me acompanha na actividade da escrita, é que não me ralhava, não me dizia: corta isso , que é uma merda. Achava que não tinha de me ferir. E eu na altura tinha precisado de alguém que me dissesse para deitar aquelas tretas fora. Não tive a sorte de encontrar o meu Pound...
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