domingo, 1 de fevereiro de 2009
Amar-te ao menos uma vez, deixar em ti algumas pétalas. Um cheiro.
No meu corpo de homem consenti. De canto a canto dos lençóis fui arrancando borboletas, farrapos, aneis.
Isabel de Sá, Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005
Fragmento de FENDA ABERTA de
F. SCOTT FITZGERALD
(...) Mal se olha o Mediterrâneo ficamos logo a perceber por que é que o homem se pôs ali de pé, pela primeira vez, e estendeu ao sol os seus braços. É um mar azul; ou antes, mais azul será por causa da estafada frase que descreve todo o charco, desde o Pólo Norte ao Sul. É o azul feérico dos quadros de Maxfield Parrish; o azul dos livros azuis, da essência azul, de olhos azuis, e a sombra das montanhas é uma faixa de terra verde que contorna cinquenta quilómetros a costa e faz o campo de golfe do mundo. A Riviera! O nome das suas estações, Cannes, Nice, Monte Carlo, evocam a memória de uma centena de reis e príncipes sem trono que ali foram morrer, de rajás e beis misteriosos a atirar diamantes azuis a dançarinas inglesas, milionários russos a dilapidar fortunas na roleta nesses dias de caviar já perdidos, de antes da guerra. Desde Charles Dickens a Catarina de Médicis, desde Eduardo Príncipe de Gales no auge da popularidade a Oscar Wilde no mais fundo da desgraça, toda a gente veio esquecer aqui ou celebrar, esconder-se ou libertar-se, construir palácios brancos sobre saques da opressão ou escrever livros que às vezes minam esses mesmos palácios. (...)