segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Considerações sobre um poema de JORGE DE SENA
Joaquim Manuel Magalhães
OS DOIS CREPÚSCULOS - Sobre poesia portuguesa actual e outras crónicas
(...) Em Sobre Esta Areia...oito meditações sobre o Pacífico, o seu último volume de poemas até esta data, anuncia uma visão das relações dos corpos, uma superação dos recalcamentos colectivos, uma referência à multiplicidade do amor que culminam as suas várias narrativas sobre a multiforme explosão do prazer, o qual é um dos núcleos mais tensos da atenção humana e literária da nossa época. No passo a seguir transcrito, vêem-se dois corpos de homem e outro de mulher que entre si tivessem distribuído o que de prazer os corpos podem alcançar em habituação sexual, que lhes permite estar juntos como que depois das marcas do desejo.
Joaquim Manuel Magalhães
OS DOIS CREPÚSCULOS - Sobre poesia portuguesa actual e outras crónicas
(...) Em Sobre Esta Areia...oito meditações sobre o Pacífico, o seu último volume de poemas até esta data, anuncia uma visão das relações dos corpos, uma superação dos recalcamentos colectivos, uma referência à multiplicidade do amor que culminam as suas várias narrativas sobre a multiforme explosão do prazer, o qual é um dos núcleos mais tensos da atenção humana e literária da nossa época. No passo a seguir transcrito, vêem-se dois corpos de homem e outro de mulher que entre si tivessem distribuído o que de prazer os corpos podem alcançar em habituação sexual, que lhes permite estar juntos como que depois das marcas do desejo.
É um poema sobre quase todo o amor. Sobre, também, o olhar sem repressão. Sobre a justa medida que existe «entre o passado e este presente». Californiano embora, mas mandado em poema para onde se teme viver. (...)
Editora, A Regra do Jogo, Lisboa, 1981
Poema de JORGE DE SENA
Deitados no sabor de ao sol queimarem
o mais oculto de si mesmos são
dois jovens e uma jovem misturados.
Um dos rapazes se recosta contra o corpo
do outro rapaz que alonga dorso e pernas,
enquanto neste se debruça e dobra,
pendendo os frescos seios e os cabelos,
o corpo feminino associado aos de ambos.
Mas nada indica excitação nos machos
de quem se pousa o sexo ou distendido pende
em de sereno indiferente como
a só vazia de ausência mistério
que a corpos dava um fervor quente e humano.
São, como deuses, animais sem cio?
Ou são, como animais, humanos, que se aceitam?
Ela é de quem? De um deles só, dos dois?
Um deles será dela mas também do outro?
Será cada um dos três dos outros dois?
Ambos os machos serão fêmeas do outro?
Ou sou um deles? Qual dos dois? O que
sentado se recosta? O que deitado
aceita contra o seu corpo recostado?
Sobre Esta Praia... Oito Meditações à beira do Pacifico (1979), cuja primeira edição em Português foi publicada pela Editorial Inova, em 1977.
Deitados no sabor de ao sol queimarem
o mais oculto de si mesmos são
dois jovens e uma jovem misturados.
Um dos rapazes se recosta contra o corpo
do outro rapaz que alonga dorso e pernas,
enquanto neste se debruça e dobra,
pendendo os frescos seios e os cabelos,
o corpo feminino associado aos de ambos.
Mas nada indica excitação nos machos
de quem se pousa o sexo ou distendido pende
em de sereno indiferente como
a só vazia de ausência mistério
que a corpos dava um fervor quente e humano.
São, como deuses, animais sem cio?
Ou são, como animais, humanos, que se aceitam?
Ela é de quem? De um deles só, dos dois?
Um deles será dela mas também do outro?
Será cada um dos três dos outros dois?
Ambos os machos serão fêmeas do outro?
Ou sou um deles? Qual dos dois? O que
sentado se recosta? O que deitado
aceita contra o seu corpo recostado?
Sobre Esta Praia... Oito Meditações à beira do Pacifico (1979), cuja primeira edição em Português foi publicada pela Editorial Inova, em 1977.
Subscrever:
Mensagens (Atom)