terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Poema de Isabel de Sá - publicado na Antologia Poesia e Ciência na Literatura Portuguesa - O binómio de Newton & a Vénus de Milo - Fundação Champalimaud, 2011

NÃO SE PASSA NADA

Nada de cinismo
a vida é boa
ainda não há guerra
nem peste nem fome.

Ninguém cospe no teu rosto.

O fruto cai da árvore
a fêmea é fertil
o macho  vigoroso
as crias alegram o prado
e o sol brilha brilha.

A ciência não pára
de nos surpreender
e dar conforto:
nascer crescer ser velho
e falecer. Moléculas
átomos e neutrões
amparam-nos na queda
dizem-nos o que é o amor.

O amor também é feito
de vermes e bactérias.
A sua chama
transforma os nossos corpos
na mais bela cinza.




O binómio de Newton & a Vénus de Milo, Edição Aletheia, Lisboa, 2011. Fundação Champalimaud

Poema de João Borges - publicado na Antologia Poesia e Ciência na Literatura Portuguesa - O binómio de Newton & a Vénus de Milo - Fundação Champalimaud, 2011

A CIÊNCIA CONTINUA


Mudámos de ano, de década,
de século, de milénio
e não mudou nada:
a casa em frente é ainda bege,
a rua sinuosa
e as pessoas mascaradas.

O dia termina luminoso
no muro coberto de glicínias,
no passeio onde calcorreei
magma do cansaço.

A ciência continua, prolonga a vida
e invade os dias. Ainda não se descobriu
cura para o cancro
nem as pessoas estão confortáveis
com o silêncio
ou a realidade da morte.

Porto, 25 de Junho de 2010




O binómio de Newton & a Vénus de Milo, Edição Aletheia, Lisboa, 2011. Fundação Champalimaud