sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Poema de Manuel António Pina

It's All Right, Ma...
 
                                                                                 Ao Helder
 
Está tudo bem, mãe,
estou só a esvair-me em sangue,
o sangue vai e vem,
tenho muito sangue.

Não tenho paciência,
nem tempo que baste
(nem espaço, deixaste-me
pouco espaço para tanta existência).

Lembranças a menos
faziam-me bem,
e esquecimento também
e sangue e água menos.

Teria cicatrizado
a ferida do lado,
e eu ressuscitado
pelo lado de dentro.

Que é o lado
por onde estou pregado,
sem mandamento
e sem sofrimento.

Nas tuas mãos
entrego o meu espírito,
seja feita a tua vontade,
e por aí adiante.

Que não se perturbe
nem intimide
o teu coração,
estou só a morrer em vão.


Cuidados Intensivos, Edições Afrontamento, Porto,1994.

Poeta Manuel António Pina -1943-2012




Manuel António Pina, de 68 anos, Prémio Camões 2011, morreu esta tarde no Porto.

O poeta Manuel António Pina, morreu esta tarde na minha cidade, era um escritor afectuoso, divertido e melancólico, gostava muito de gatos e quando nos encontravamos, quase sempre na Fundação Eugénio de Andrade, no Passeio Alegre, na Foz, era uma conversa agradável, informal e terminava a falarmos de comportamentos felinos!

 
Manuel António Pina nasceu no dia 18 de Novembro de 1943.Licenciado em Direito, escritor, trabalhou no Jornal de Notícias durante três décadas.
Além da poesia (o primeiro livro foi editado em 1974, «Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo, calma é apenas um pouco tarde») e da literatura infanto-juvenil («O país das pessoas de pernas para o ar», em 1973), escreveu ainda diversas peças de teatro e obras de ficção e crónica.
Tem obras traduzidas em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.
A obra poética de Manuel António Pina está reunida no volume «Todas as Palavras», editado este ano pela pela Assírio & Alvim.
Além do Prémio Camões 2011, ganhou as seguintes distinções e prémios:
1978
Prémio de Poesia da Casa da Imprensa («Aquele que quer morrer»);
1987
Prémio Gulbenkian 1986/1987 («O Inventão»);
1988
Menção do Júri do Prémio Europeu Pier Paolo Vergerio da Universidade de Pádua, Itália («O Inventão»);
1988
Prémio do Centro Português para o Teatro para a Infância e Juventude (CPTIJ) (conjunto da obra infanto-juvenil);
1993
Prémio Nacional de Crónica Press Club/ Clube de Jornalistas;
2002
Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários” («Atropelamento e fuga»);
2004
Prémio de Crónica 2004 da Casa da Imprensa (crónicas publicadas na imprensa em 2004);
2004
Prémio de Poesia Luís Miguel Nava 2003 («Os livros»);
2005
Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT («Os Livros»);
2011
Prémio Camões