domingo, 23 de outubro de 2011
ALICE É ÚNICA. (Helena Vasconcelos - A Infância É Um Território Desconhecido)
(...) Alice é única. Não existe nenhuma personagem da História da Literatura que lhe chegue aos calcanhares. É a primeira heroína criança. É engraçada. É curiosa. É valente. É emotiva. Tem um apurado sentido da justiça. É esperta. É sentimental, É lógica. É rapariga. O seu contraponto masculino - e contemporâneo - é, sem dúvida Peter Pan. Mas as diferenças entre eles ultrapassam a mera questão de género. Alice, mesmo no País das Maravilhas é uma pessoa bastante real; Peter Pan, num universo quase «real» é apenas uma espécie de elfo; Alice é corajosa porque pensa; Peter Pan é corajoso porque não pensa. (...)
A Infância É Um Território Desconhecido - HELENA VASCONCELOS
(...) Convenhamos que o Deus das Moscas é uma narrativa muito desagradável; e muito bem escrita, o que potencia grandemente o seu impacto. Golding insinua - ou antes, afirma - que a perda de inocência não está directamente relacionada com a idade, mas tem, isso sim, uma correlação estreita com o momento em que se abarca a verdadeira dimensão da natureza humana.
O facto de Golding ter escolhido rapazes, alguns bem pequenos, para protagonizarem uma história tão terrível choca mais porque, à partida, pensamos sempre que as crianças são naturalmente «boas». Para além disso, a feroz alegoria de Golding pode aproximar-se da de George Orwell em Animal Farm (O Triunfo dos Porcos), que data de 1945 e é uma crítica feroz aos totalitarismos, sejam de esquerda ou de direita. No caso de Golding poder-se-á dizer que o Deus das Moscas, numa perspectiva política, é uma crítica à anarquia, mas este livro tem um carácter mais filosófico que o de Orwell, que é possível que Golding tenha lido. Poderia também considerar-se que Goldingquis dizer que as pessoas que se entregam à barbarie não estão desenvolvidas psicologicamente, não têm a maturidade dos adultos, supostamente responsáveis, como o incrédulo oficial da Marinha, no final do livro. Pela mesma lógica, a guerra, a violência, o confronto não civilizado seriam apanágio da imaturidade humana. (...)
Dois poemas de INÊS LEITÃO
Da pertença
A tua biblioteca com os olhos postos em mim desde que entrei na tua sala, os teus livros a dizerem entre si que nunca me tinham visto
(quem é aquela?)
a prenderem a respiração ao meu toque como se tu fosses o seu único digno proprietário e eu
(uma pequena invasora)
uma pequena invasora que os agarra docemente com as ponta dos dedos
à laia de carícia; alguém feito de carne, pele, ossos e unhas que lhes abre as folhas para os saber por dentro.
(uma pequena invasora)
uma pequena invasora que os agarra docemente com as ponta dos dedos
à laia de carícia; alguém feito de carne, pele, ossos e unhas que lhes abre as folhas para os saber por dentro.
Do Martírio
Explicar ao meu corpo que se podia acalmar e que sobreviveria sem ti se um dia o teu quarto cor de fruta desaparecesse da nossa frente para sempre e os teus olhos nunca tivessem existido
(o medo dos teus olhos a questionarem os meus)
(o medo dos teus olhos a questionarem os meus)
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