sexta-feira, 22 de julho de 2011

a propósito de O Tempo Aprazado de Ingeborg Bachmann




Poema de Ingeborg Bachmann

DIZER TREVAS

Como Orfeu, toco
a morte nas cordas da vida
e à beleza do mundo
e dos teus olhos que regem o céu
só sei dizer trevas.

Não te esqueças que também tu, subitamente
naquela manhã, quando o teu leito
estava ainda húmido de orvalho e o cravo
dormia no teu coração,
viste o rio negro
passar por ti.
Com a corda do silêncio
tensa sobre a onda de sangue,
dedilhei o teu coração vibrante.
A tua madeixa transformou-se
na cabeleira de sombras da noite,
os flocos negros da escuridão
nevavam sobre o teu rosto.

E eu não te pertenço.
Ambos nos lamentamos agora.

Mas como Orfeu, sei
a vida ao lado da morte,
e revejo-me no azul
os teus olhos fechados para sempre.


O Tempo Aprazado, Assírio & Alvim, selecção, tradução e introdução - Judite Berkemeier e João Barrento, Lisboa, 1992

Morreu LUCIEN FREUD, um dos meus pintores preferidos. O que me fascina na obra deste pintor é a ausência de pose e a revelação de uma genuína intimidade. Agora irá pintar os ANJOS assexuados.