sábado, 14 de janeiro de 2012
OLMO
Para a Ruth Fainligth
Conheço o fundo, diz ela. Cheguei lá com a minha raiz maior:
É disso que tu tens medo.
Mas eu não tenho medo: já lá estive.
É o mar o que ouves em mim,
As suas insatisfações?
Ou a voz do nada que era a tua loucura?
O amor é uma sombra.
Como ficas prostrada e chorosa depois
Escuta: são os cascos dele: desapareceu como um cavalo.
Toda a noite vou galopar, assim, impetuosamente,
Até que a tua cabeça fique uma pedra e a tua almofada um pequeno monte de turfa,
Fazendo eco, fazendo eco.
Ou deverei eu trazer-te um som de venenos?
Agora é a chuva, este quase silêncio.
E este é o seu fruto: da cor metálica do arsénico.
Tenho sofrido a atrocidade dos crepúsculos.
Queimados até à raiz
Os meus filamentos vermelhos ardem, ficam espetados, mão de fios eléctricos.
Desfaço-me em bocados de caruma que voam em várias direcções.
Um vento tão violento
Não aguenta espectadores: tenho de gritar.
Também da lua está ausente a piedade: havia de arrastar-me
Cruel, na sua esterilidade.
O seu esplendor ofusca-me. Ou talvez a tenha agarrado.
Vou deixá-la ir. Vou deixá-la ir
Diminuída e esvaziada, como após uma operação radical.
Como os teus sonhos maus me possuem e alimentam.
Sou habitada por um grito.
Noite após noite bate as asas
Procurando com as garras algo para amar.
Aterroriza-me esta coisa tenebrosa
Que dorme dentro de mim;
Todo o dia sinto o macio voltejar das suas penas, a sua malignidade.
As nuvens passam e dispersam-se.
Serão essas as faces do amor, esfumadas coisas que não se recuperam?
É por isto que perturbo o meu coração?
Sou incapaz de aprender mais.
O que é isto, este rosto
Tão assassino em seus tentáculos estranguladores?
O seu ácido silvo de serpente.
Petrifica o desejo. Erros que isolam, essas falhas lentas
Que matam, e matam, e matam.
Sylvia Plath
Ariel, tradução de Maria Fernanda Borges, Relógio D'Água, 1996
Para a Ruth Fainligth
Conheço o fundo, diz ela. Cheguei lá com a minha raiz maior:
É disso que tu tens medo.
Mas eu não tenho medo: já lá estive.
É o mar o que ouves em mim,
As suas insatisfações?
Ou a voz do nada que era a tua loucura?
O amor é uma sombra.
Como ficas prostrada e chorosa depois
Escuta: são os cascos dele: desapareceu como um cavalo.
Toda a noite vou galopar, assim, impetuosamente,
Até que a tua cabeça fique uma pedra e a tua almofada um pequeno monte de turfa,
Fazendo eco, fazendo eco.
Ou deverei eu trazer-te um som de venenos?
Agora é a chuva, este quase silêncio.
E este é o seu fruto: da cor metálica do arsénico.
Tenho sofrido a atrocidade dos crepúsculos.
Queimados até à raiz
Os meus filamentos vermelhos ardem, ficam espetados, mão de fios eléctricos.
Desfaço-me em bocados de caruma que voam em várias direcções.
Um vento tão violento
Não aguenta espectadores: tenho de gritar.
Também da lua está ausente a piedade: havia de arrastar-me
Cruel, na sua esterilidade.
O seu esplendor ofusca-me. Ou talvez a tenha agarrado.
Vou deixá-la ir. Vou deixá-la ir
Diminuída e esvaziada, como após uma operação radical.
Como os teus sonhos maus me possuem e alimentam.
Sou habitada por um grito.
Noite após noite bate as asas
Procurando com as garras algo para amar.
Aterroriza-me esta coisa tenebrosa
Que dorme dentro de mim;
Todo o dia sinto o macio voltejar das suas penas, a sua malignidade.
As nuvens passam e dispersam-se.
Serão essas as faces do amor, esfumadas coisas que não se recuperam?
É por isto que perturbo o meu coração?
Sou incapaz de aprender mais.
O que é isto, este rosto
Tão assassino em seus tentáculos estranguladores?
O seu ácido silvo de serpente.
Petrifica o desejo. Erros que isolam, essas falhas lentas
Que matam, e matam, e matam.
Sylvia Plath
Ariel, tradução de Maria Fernanda Borges, Relógio D'Água, 1996
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