PAUL KLEEJardins da Tunísia
8 de SETEMBRO 8 de SETEMBROPoema de ISABEL DE SÁA Bola MulticolorNo dia em que completei oito anosde idade e a nossa criadame deu de presente uma bola multicolor,corri pela praia sentindo a leve brisade Setembro. E dessa manhã ficouno álbum a fotografiaque raramente vejo.O vento na folhagem, no caule das flores,a voz de crianças. E tu sobre a folhadesenhando o retratodaquele que escreveu Indícios de Oiro.
SETEMBRO SETEMBRO SETEMBROPoema de WALT WHITMAMPor Caminhos Não PercorridosPor caminhos não percorridos,Pela vegetação das margens das lagunas,Fugindo da ostensiva vida,De todas as normas já promulgadas, dos prazeres, benefícios, convençõesTudo isso com que, demasiado tempo, alimentei a minha alma,Convencido enfim de que as normas ainda promulgadas, convencido de que a minha alma,De que a alma do homem por quem falo descobre a alegria nos companheiros,Aqui, a sós, longe do tumulto do mundo,Em harmonia com as aromáticas línguas que me falam,Sem envergonhar-me mais (pois neste lugar distante, como em nenhum outro posso abandonar-meEntregue à vida que não se revela ainda que tudo contenhaDecido-me hoje a cantar apenas os cantos de viril afecto,Projectando-os ao longo da plena vida,Legando, desde já, as formas de másculo amor,Pela tarde deste delicioso Setembro dos meus quarenta e um anos,Dirijo-me a todos os homens que são ou foram jovens,Conto-lhes o segredo das minhas noites e dos meus dias,Celebro a necessidade de companheiros.
SETEMBRO E POEMAS QUE FALAM DE SETEMBROPoema de RUY BELOO Testamento de Elvira SanchesRelatório de ContasSetembro é o teu mês, homem da tardeanunciado em folhas como uma ameaçaNinguém morreu ainda e tudo treme jáVentos e chuvas rondam pelos côncavos dos céuse brilhas como quem no próprio brilho se consomeTens retiradas hábeis, sabes comoa maçã se arredonda e se rebola à volta do que a róiHá uvas há trigo e o búzio da azeitona asperge em leque o som inabalávelnos leves ondulados e restritos renques das mais longínquas oliveiras conhecidasPoisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste joveme tinhas quem sinceramente acreditasse em tiA consciência mói-te mais que uma doençareúnes em redor da casa equilibrada restos de rebanhose voltas entre estevas pelos múltiplos caminhosHá fumos névoas noites coisas que se elevam e dispersamregressas como quem dependurado cai da sua podridão de pomoReconheces o teu terrível nome as rugas do teu risocomeçam já então a retalhar-te a caraDespedias poentes por diversos pontos realmenteÉs aquele que no maior número possível de palavras nada disseComprazes-te contigo quando o próprio soldesce sobre o pátio e passa tantas mãos na pele dos rostos que tivesteRepara: não esbarras já contra a cor amarela?Setembro na verdade é mês para voltarPodes tentar ainda alguns expedientes respeitáveismultiplicar diversas diligências nos ameaçados cumes dos outeirosser e não ser fugir do rótulo aceitar e esquivar o nome fixoE no entanto é inevitável: a temperatura descerá mais dia menos diaCalas-te então cumprido como um rosto e puxas toda a tardesobre esse corpo que se estende e jazAndaste de lugar para lugar e deste o dito por não ditomas todos toda a vida teus credores saberão onde encontrar-tepois passarás a estar nalguma parteTens domicílio ali que a terra sobe levementee toda a tua boca ambiciosa sabe e sente quanto barro encerra