No dia em que completei oito anos de idade e a nossa criada me deu de presente uma bola multicolor, corri pela praia sentindo a leve brisa de Setembro. E dessa manhã ficou no álbum a fotografia que raramente vejo.
O vento na folhagem, no caule das flores, a voz de crianças. E tu sobre a folha desenhando o retrato daquele que escreveu Indícios de Oiro.
SETEMBRO SETEMBRO SETEMBRO
Poema de WALT WHITMAM
Por Caminhos Não Percorridos
Por caminhos não percorridos, Pela vegetação das margens das lagunas, Fugindo da ostensiva vida, De todas as normas já promulgadas, dos prazeres, benefícios, convenções Tudo isso com que, demasiado tempo, alimentei a minha alma, Convencido enfim de que as normas ainda promulgadas, convencido de que a minha alma, De que a alma do homem por quem falo descobre a alegria nos companheiros, Aqui, a sós, longe do tumulto do mundo, Em harmonia com as aromáticas línguas que me falam, Sem envergonhar-me mais (pois neste lugar distante, como em nenhum outro posso abandonar-me Entregue à vida que não se revela ainda que tudo contenha Decido-me hoje a cantar apenas os cantos de viril afecto, Projectando-os ao longo da plena vida, Legando, desde já, as formas de másculo amor, Pela tarde deste delicioso Setembro dos meus quarenta e um anos, Dirijo-me a todos os homens que são ou foram jovens, Conto-lhes o segredo das minhas noites e dos meus dias, Celebro a necessidade de companheiros.
SETEMBRO E POEMAS QUE FALAM DE SETEMBRO
Poema de RUY BELO
O Testamento de Elvira Sanches
Relatório de Contas
Setembro é o teu mês, homem da tarde anunciado em folhas como uma ameaça Ninguém morreu ainda e tudo treme já Ventos e chuvas rondam pelos côncavos dos céus e brilhas como quem no próprio brilho se consome Tens retiradas hábeis, sabes como a maçã se arredonda e se rebola à volta do que a rói Há uvas há trigo e o búzio da azeitona asperge em leque o som inabalável nos leves ondulados e restritos renques das mais longínquas oliveiras conhecidas Poisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste jovem e tinhas quem sinceramente acreditasse em ti A consciência mói-te mais que uma doença reúnes em redor da casa equilibrada restos de rebanhos e voltas entre estevas pelos múltiplos caminhos Há fumos névoas noites coisas que se elevam e dispersam regressas como quem dependurado cai da sua podridão de pomo Reconheces o teu terrível nome as rugas do teu riso começam já então a retalhar-te a cara Despedias poentes por diversos pontos realmente És aquele que no maior número possível de palavras nada disse Comprazes-te contigo quando o próprio sol desce sobre o pátio e passa tantas mãos na pele dos rostos que tiveste Repara: não esbarras já contra a cor amarela? Setembro na verdade é mês para voltar Podes tentar ainda alguns expedientes respeitáveis multiplicar diversas diligências nos ameaçados cumes dos outeiros ser e não ser fugir do rótulo aceitar e esquivar o nome fixo E no entanto é inevitável: a temperatura descerá mais dia menos dia Calas-te então cumprido como um rosto e puxas toda a tarde sobre esse corpo que se estende e jaz Andaste de lugar para lugar e deste o dito por não dito mas todos toda a vida teus credores saberão onde encontrar-te pois passarás a estar nalguma parte Tens domicílio ali que a terra sobe levemente e toda a tua boca ambiciosa sabe e sente quanto barro encerra