sábado, 9 de maio de 2009

NESSE TEMPO
Usar a liberdade de tudo dizer é ainda evocar a dúvida. O mundo não suporta a extrema delicadeza da fala poética. Mas o instinto gastou o nosso rosto, arrastou-nos para o mal. Nesse tempo, nesse tempo em que fomos amantes, a luz doirada do abismo fez-me cair na tentação. Não esqueço o teu olhar, a treva do teu corpo mergulhado na penumbra.
Ao enfrentar a experiência daquele que se arruína meu espírito dissolve-se na contradição. A matéria do texto é carnal e, enquanto estou só, sou alguém que está comigo.
Isabel de Sá, nono livro, O Duplo Dividido, 1989, integrado em Repetir o Poema, Quasi Edições, 2005

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