sábado, 15 de novembro de 2008

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO aquém de si próprio

por Maria Manuela Brazette

(Texto publicado na Revista Portuguesa de Psicanálise, n.14, 1996)

Através da sua poesia, Mário de Sá-Carneiro mostra uma enorme necessidade de se conhecer e uma ânsia desesperada de se ligar a Alguém para poder viver e gostar de si próprio. Com espantosa lucidez e grande capacidade de análise, fala do seu mundo interior e descreve, em linguagem poética, fenómenos como a despersonalização, a susceptilidade narcísica, a dificuldade de identificação e de relação com o Outro. Neste trabalho dá-se primazia à palavra de Mário de Sá-Carneiro.

"É desolador como sabemos pouco de nós. Tudo é silêncio em nossa volta. O que é a vida? O que é a morte?...Donde somos, para onde viemos, para onde vamos?...Mistérios. Nuvens. Sombra fantástica...E o homem de siso não crê nos espectros!...Mas não seremos espectros nós próprios?O Mistério?...Olhem-nos: O Segredo Total, o Mistério Maior, somos nós, em verdade...Ah!, diante dum espelho, devíamos sempre ter medo! Deixemos o futuro, esqueçamos Amanhã -sonhadores heróicos de Além. Entretanto olhemos o passado - tentemos vará-lo, saber ao menos quem fomos Aquém".

Palavras de Mário de Sá-Carneiro ditas pela personagem da novela A estranha morte do Prof.Antena.

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