terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

JOVEM POESIA ESPANHOLA

JOSÉ LUIS PIQUERO


ROMEU NO INTERNATO

Amava a inocência dele, o seu cálido contacto
casual durante o jogo,
o sorriso radiante que também cativara
desde o primeiro instante o Superior.
Os rapazes mais rudes ofereciam-lhe doces
e todos o escolhíamos para formar equipas.

Eu amava como um louco a preguiça dele nas tardes
de calor quando, meio adormecido,
a postura indolente, parecia perder-se
no quintal, tão longe detrás da janela enorme,
e o professor de Ciências era um adorno inútil.
Amava-o se a camisola lhe caía
da cintura quase aos tornozelos
ou se declarava muito sério detestar a sopa
ou não percebia uma piada das frescas.

Amava sobretudo a sua falta de defesa, as lágrimas
que tanto embelezaram o seu rosto certa vez
que se aleijou numa perna no recreio, e levá-lo
apoiado ao meu ombro para arranjar uma ligadura.

E no instante glorioso em que lhe deram
- pela sua cara bonita - o papel de Julieta
e pude por fim dizer-lhe quanto o amava, o amava
em voz alta, olhando-o nos olhos,
diante de todo o colégio, diante dos meus pais.

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