segunda-feira, 31 de maio de 2010

TRÊS INTERPRETAÇÕES BRILHANTES DA SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA - MÚSICA DE IGOR STRAVINSKY - TRÊS COREÓGRAFOS FAMOSOS

SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA - PINA BAUSCH

SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA - MAURICE BÉJART

SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA - OLGA RORIZ

CAFÉ MULLER - com a presença de PINA BAUSCH - UMA RARIDADE

Poema de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

    O meu olhar é nítido como o girassol.
    Tenho o costume de andar pelas estradas
    Olhando para a direita e para a esquerda,
    E de vez em quando olhando para trás...
    E o que vejo a cada momento
    É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
    E eu sei dar por isso muito bem...
    Sei ter o pasmo essencial
    Que tem uma criança se, ao nascer,
    Reparasse que nascera deveras...
    Sinto-me nascido a cada momento
    Para a eterna novidade do Mundo...

    Creio no mundo como num malmequer,
    Porque o vejo. Mas não penso nele
    Porque pensar é não compreender...

    O Mundo não se fez para pensarmos nele
    (Pensar é estar doente dos olhos)
    Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

    Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
    Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
    Mas porque a amo, e amo-a por isso
    Porque quem ama nunca sabe o que ama
    Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

    Amar é a eterna inocência,
    E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914

sexta-feira, 28 de maio de 2010

MUSE - KNIGHTS OF CYDONIA

MUSE - SUPERMASSIVE BLACK HOLE

JUP - Número de Abril/Maio 2010

Já se encontra disponível o JUP de Abril/Maio 2010
Mais um número do Jornal Universitário do Porto.
Uma óptima qualidade gráfica ao nível da paginação
e das imagens. Páginas dedicadas às Tradições Académicas,
Praxes e Assuntos Culturais.
Neste número especial um poema de JOÃO BORGES
sobre o Porto.

REGRESSO AO PORTO: O AR DA MANHÃ

As gaivotas fustigam a madrugada
no Porto. A luz é branca
e resplandecem as fachadas que se
vêem daqui, do último andar. Alguns prédios
mais altos
rompem o céu límpido. Uma grua
parece suspensa sobre a frente
de Gaia. Da Torre, só o cimo
visível. Algumas árvores mais frondosas
cresceram em sítios
improváveis. O inverno perdeu muito
desta paisagem, daqui a uns dias
a primavera trará o avesso
dessa aridez. Nesta varanda, respiro
o impoluto ar da manhã,
como uma dádiva. Enfrento,
com o coração a dilatar-se,
o berço que não me viu nascer.
Nem por isso é menos berço.
Ou casa.

Também disponível online

http://espacosjup.blogspot.com/

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Fragmento de poema de Herberto Helder

(...)
III

As mulheres têm uma assombrada roseira
fria espalhada no ventre.
Uma quente roseira às vezes, uma planta
de treva.
Ela sobe dos pés e atravessa
a carne quebrada.
Nasce dos pés, ou da vulva, ou do ânus -
e mistura-se nas águas,
no sonho da cabeça.
As mulheres pensam como uma impensada roseira
que pensa rosas.
Pensam de espinho para espinho,
param de nó em nó.
As mulheres dão folhas, recebem
um orvalho inocente.
Depois sua boca abre-se.
Verão, outono, a onda dolorosa e ardente
das semanas,
passam por cima. As mulheres cantam
na sua alegria terrena.


Que coisa verdadeira cantam?
Elas cantam.
São broncas e doces, mudam
de cor, anunciam a felicidade no meio da noite,
os dias brilhantes de desgraça.
Com lágrimas, sangue, antigas subtilezas
e uma suavidade amarga -
as mulheres tornam impura e magnífica
nossa límpida, estéril
vida masculina.
Porque as mulheres não pensam: abrem
rosas tenebrosas
alagam a inteligência do poema
com o fogo podre de um sangue menstrual.
São altas essas roseiras de mulheres,
inclinadas como sinos, como violinos, dentro
do som.
Dentro da sua seiva de cinza brilhante.
(...)

sábado, 22 de maio de 2010


Ilustração de Cristina Valadas

Poema de Isabel de Sá

A infância é um susto. Sofre as metamorfoses do medo. A infância está calada, move-se como coluna de mármore, como réptil que cresce por detrás do mar.
A infância traz a bandeira da morte. Branca. Tão branca como o sexo dos anjos.
Na infância criam-se ocupações abstractas que mover-nos-ão enquanto vivos. As palavras da infância nunca são palavras. São incompreensão, vazio, sono, doença.
Segundo livro, O Festim das Serpentes Novas, Repetir o Poema, edições Quasi, 2005

terça-feira, 18 de maio de 2010

18 de maio de 1980 - A morte de IAN CURTIS - DECADES - 30 anos depois e parece escrito hoje...

Decades
Here are the young men, a weight on their shoulders
Here are the young men, well, where have they been?
We knocked on doors of hell's darker chambers
Pushed to the limits, we dragged ourselves in
Watched from the wings as the scenes were replaying
We saw ourselves now as we never had seen
Portrayal of the traumas and degeneration
The sorrows we suffered and never were freed
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Weary inside, now our hearts lost forever
Can't replace the fear or the thrill of the chase
These rituals showed up the door for our wanderings
Opened and shut, then slammed in our face
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?
Where have they been?

Love Will Tear Us Apart - Esta canção já tem 3 décadas e continua actual . Porque será tão difícil o entendimento entre duas pessoas. O amor acaba?

Love Will Tear Us Apart
When routine bites hard
And ambitions are low
And resentment rides high
But emotions won't grow
And we're changing our ways
Taking different roads
Then love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives
But love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
You cry out in your sleep
All my failings exposed
And there's taste in my mouth
As desperation takes hold
Just that something so good
Just can't function no more
But love, love wil tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again

O sofrimento de IAN CURTIS na sua performance trágica - Uma entrega total de alma - para privilégio de quem assistiu.

A performance de IAN CURTIS

TRÊS DÉCADAS PÓS JOY DIVISION - When the soul turns BLACK it's difficult to find the LIGHT.




sábado, 15 de maio de 2010




A propósito do momento que vive o País. Uns anónimos deixaram estas palavras.

A Treze de Maio
Na Praça da Liberdade
Dançava-se o verde gaio
Com toda a caridade

Nos cafés o nosso povo
Bebia esperança na bica da noite
Multidão dentro de um ovo
Mesmo pronta para o açoite

As ruas e praças iluminadas
Para a missa matutina
Beatas fogosas e levadas
Com o pensamento na batina

Todo o séquito se prepara
Na hora da grande aflição
Pois todo aquele que pecara
Se limpará na oração

ZHANG HUAN




CADAVRE EXQUIS - a 13 de Maio no café "A Brasileira" na cidade do Porto.

O TREZE DE MAIO NA COVA DO TEATRO DA BANDEIRA.
MESMO ASSIM AS MENTES ABERTAS FECHAM-SE ÀS COVAS COM ÍRIS OU SEM ÍRIS.
O QUE FAZ LEMBRAR ARCOS. COMO O QUE A NOSSA SENHORA TEM NA CABEÇA.
NA CABEÇA TALVEZ A BOSTA DO CORDEIRO SAGRADO. NO CORAÇÃO O SANGUE DO MENINO ENTERRADO.
DEIXOU UMA MÃO FORA DA TERRA - O MENINO.
O MENINO DE SUA MÃE QUE SE ENCONTRA DE CUECAS E PARECE TOLO QUE BASTE.
DISCORDO. A SEMI-NUDEZ PODE SER SEXY. ASSIM COMO A IDEIA DE CORROMPER O SAGRADO COM OS PECADOS DA CARNE.
PECADO? DEVASSIDÃO? TUDO PALAVRAS AMANTES PARA AS QUAIS PODEMOS VIVER.
MORRER TAMBÉM. PODEMOS MORRER PODEMOS SEMPRE PELAS PALAVRAS MESMAS.
A VIDA É SEMPRE A MESMA. SERÁ? OS FIGURANTES MUDAM OU APENAS COLOCAM OUTRAS MÁSCARAS...
EU TENHO PREFERÊNCIA PELAS VENEZIANAS. MAS SE ESTIVERMOS A FALAR DE HOMENS, PREFIRO OS NÓRDICOS.
SÓ MARLON BRANDO NA JUVENTUDE. E MAIS ALGUNS, NÃO SEI NOMES. HOMENS SÓ BELOS. MULHERES FATAIS, LIGEIRAMENTE DEPRIMIDAS - SÃO AS MELHORES PARA O SEXO. AS LOIRAS SÃO GIRAS, AS RUIVAS NEURÓTICAS...MAS OS CABELOS DE FOGO, ARDEM MESMO.
DIGAMOS QUE É O DIGNITATIS ECCE HOMO. QUE MESMO ARDIDO ARDE.
Autores: Clara Afonso. Graça Martins. Isabel de Sá. João Borges.

Fiona Apple

"And there's too much going on
But it's calm under the waves
In the blue of my oblivion
Under the waves
In the blue of my oblivion"


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Pode-se avaliar a beleza de um livro pelo vigor dos safanões que ele nos deu e pelo tempo que levamos depois a recompor-nos

Flaubert

Poema de Yvette Centeno

COMO SE ESTIVESSE NUM CAFÉ

Espero
sentada
tranquilamente
em mim

Espero
como se estivesse num café
cheio de gente


(Café Central)

Poema de Eugénio de Andrade

O sorriso

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

domingo, 9 de maio de 2010

MENINOS COM BONECAS

No meu trabalho plástico, sempre procurei
desmontar os esteriótipos impostos pela sociedade .
As diferenças entre masculino e feminino.
As imposições de papeis para homens e mulheres.
Quando vi pela primeira vez o video do grupo
SIGUR ROS
fiquei sensibilizada, pois já em 1983 tinha abordado
este tema que me apaixona. A impossibilidade de
um menino ou menina caminhar para brinquedos
que a sociedade determina para masculino ou feminino.
Uma formatação arrepiante.

THE CHILDREN AND THE BLACK BIRDS


SIGUR ROS

Este video é de uma BELEZA INDESCRITÍVEL. É chocante observar a FORMATAÇÃO de uma SOCIEDADE, que se estrutura CONTRA A LIBERDADE DO SER HUMANO.

A Minha Palavra Favorita - TRANSGRESSÃO . João Peste Guerreiro

(...)
Foucault
A experiência da transgressão, como dizia Michel Foucault, um dia parecerá tão decisiva para a nossa cultura (...) como a experiência da contradição o foi, em tempos antigos, para o pensamento dialéctico2. Foucault chega mesmo a falar de uma nova forma de pensamento ligada à transgressão, na qual a interrogação sobre os limites substituiria uma suposta procura da totalidade. Um pensamento liberto de todas as formas de linguagem dialéctica que pensasse o que não poderia ser pensado e dissesse o que não poderia ser dito. O pensamento de um homem constituído enquanto sujeito e liberto da dialéctica do trabalho e da produção: A aparição da sexualidade enquanto problema fundamental marca a derrapagem de uma filosofia baseada no homem como trabalhador para uma filosofia baseada num ser que fala3. Uma filosofia cujo objectivo fosse libertar o pensamento de todas as formas da linguagem dialéctica como a obra de Georges Bataille que Foucault consideravao teórico e expoente máximo do pensamento transgressivo e a quem dedicou, em 1963, o seu Préface Sur la Transgression.
2 Michel foucault, Aesthetics, Method and Epistemology, London, 1994.
3 Ibid.
A Minha Palavra Favorita, Edição Jorge Reis-Sá, CENTRO ATLÂNTICO.PT, Lisboa, 2007

sábado, 8 de maio de 2010

UM QUARTO EM ROMA -Filme de Julio Medem

Alguns filmes da minha colecção particular - RAINHA MARGOT - Patrice Chéreau

PAIXÃO DE CAMILLE CLAUDEL - Bruno Nuytten

BOUND - Sem Limites - Irmãos Wachowski

LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT - Uma história de paixão - Rainer Fassbinder

MAURICE - Uma história de amor - James Ivory

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Keit Haring
















Poema de Manuel António Pina

AGORA É

Agora é diferente
Tenho o teu nome o teu cheiro
A minha roupa de repente
ficou com o teu cheiro

Agora estamos misturados
No meio de nós já não cabe o amor
Já não arranjamos
lugar para o amor

Já não arranjamos vagar
para o amor agora
isto vai devagar
agora isto demora


ALGO PARECIDO COM ISTO, DA MESMA SUBSTÂNCIA, Edições Afrontamento, Porto, 1992

Julião Sarmento


Poema de Manuel António Pina

JUNTO À ÁGUA

Os homens temem as longas viagens,
os ladrões da estrada, as hospedarias,
e temem morrer em frios leitos
e ter sepultura em terra estranha.

Por isso os seus passos os levam
de regresso a casa, às veredas da infância,
ao velho portão em ruínas, à poeira
das primeiras, das únicas lágrimas.

Quantas vezes em
desolados quartos de hotel
esperei em vão que me batesses à porta,
voz da infância, que o teu silêncio me chamasse!

E perdi-vos para sempre entre altos prédios,
sonhos de beleza, e em ruas intermináveis,
e no meio das multidões dos aeroportos.
Agora só quero dormir um sono sem olhos.

e sem escuridão, sob um telhado por fim.
À minha volta estilhaça-se
o meu rosto em infinitos espelhos
e desmoronam-se os meus retratos nas molduras.

Só quero um sítio onde pousar a cabeça.
Anoitece em todas as cidades do mundo,
acenderam-se as luzes de corredores sonâmbulos
onde o meu coração, falando, vagueia.



ALGO PARECIDO COM ISTO, DA MESMA SUBSTÂNCIA, Edições Afrontamento. Porto, 1992

quarta-feira, 5 de maio de 2010

ESTILO URBANO INCONFUNDÍVEL

ALL STAR e FLY LONDON


Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

(...)


Fernando Pessoa, Poesia - Vol.I de Álvaro de Campos, Edição Original de Assírio & Alvim, Lisboa 2006

terça-feira, 4 de maio de 2010

Arquitectura

Algumas imagens de arquitectura contemporânea,
que aprecio em Lisboa, na zona junto ao Tejo















Feira do Livro de Lisboa

A revista de poesia BRILHO NO ESCURO - presente na

Feira do Livro de Lisboa - Banca da Frenesi /& etc.







FIRE WALK WITH ME - TWIN PEAKS - DAVID LYNCH

Desenhos de JOÃO BORGES - Triunfar sobre o medo da dor e da morte - A ameaça dos sentimentos negativos e positivos.






















O QUE NOS SEPARA? O QUE NOS UNE?

(...) Efectivamente, na ocasião da perda objectal, a ferida narcísica toma proporções dramáticas na medida em que não representada, não investida, ela apenas pode ser vivida dolorosamente, num estado de angústia- aflição sem nome; a persistência da excitação dolorosa, sem possibilidade de ligação com o objecto, torna-se rapidamente intolerável e apenas se pode descarregar no próprio corpo. (...)
Da mesma maneira, aquando da perda do objecto externo, não é possível nenhuma medida defensiva da natureza da clivagem e da "desidealização" tais como as que encontramos nos estados-limite; todo o trabalho de luto, por muito patológico que seja, torna-se irrealizável. Por outro lado, no estado-limite a falta fundamental de confiança no objecto traduz-se essencialmente por uma desconfiança em relação aos objectos interiorizados; o objecto externo, vivido como intruso, ameaça, aquando da sua interiorização, esvaziar o EU; a negação e a clivagem tornam-se indispensáveis à sua salvaguarda.
Narcisismo e Estados-Limite, Jean Bergeret, Wilfrid Reid, colecção Psicologia e Psicanálise, Direcção de Carlos Amaral Dias, Edição Escher, Lisboa, 1991