sábado, 4 de julho de 2009

A AMIZADE É UMA FORMA DE AMOR

Mais que sustentada por um bom sentimento, a amizade comporta uma ética. “A amizade é uma forma de amor” (Alberoni, 1993). Não um amor qualquer, mas um processo adulto e sofisticado, elaborado, e reforçado pelas circunstâncias que a vida nos ensina. É um vínculo que faz bem aos envolvidos, fornecendo o caminho para a sabedoria e a felicidade, tal como pensavam os gregos antigos. Também as recentes pesquisas indicam os que possuem amigos como sendo mais saudáveis, mais felizes ou, pelo menos, levando a vida com melhor sentido. Sócrates, no seu tempo, já sinalizava para os seus discípulos que “os maus não se podem amar uns aos outros”. Esse tipo de vínculo só pode existir entre homens de bem e entre homens dedicados à sabedoria (Cícero (1997: p. 83, 120), que, como sabemos, nada tem a ver com aqueles que são dedicados ao conhecimento científico ou à luta por uma causa política ou ideológica. As pseudo-amizades que coabitam na militância (política, religiosa, etc) não revelam espaço para a amizade autêntica.Para além da questão ética, Descartes distinguiu a afeição e a devoção da amizade. É afeição – e não amizade – quando apreciamos algo, por exemplo, uma flor, uma ave, um animal. “Apreciamos neles algo menos que a nós mesmos”. Devoção é oposto da afeição, isto é, temos devoção a alguém que ocupa uma posição superior a nós. Temos devoção a nossos pais, a um governante, a um rei, a Jesus Cristo, a um ídolo do momento, a um país, a uma causa. É notória a devoção a ídolos como Elvis Presley ou a Che Guevara, décadas depois de sua morte. E pode parecer ridícula a devoção a falsos ídolos, que logo serão esquecidos na história.

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