AMORES
A relação amorosa de Anäis Nin com Henry Miller e a sua mulher June expôs-se ao mundo rasgando os limites que protegem a vida da literatura. Mas outras trindades de paixão vieram à luz, dos finais do século XIX aos anos loucos de entre as duas guerras. São histórias virtiginosas de entrega, prazer e dilaceração.
Santíssimas TrindadesQuiseram amar à maneira dos deuses, fugir do egoismo simples da exclusividade e atingir o céu de todas as entregas. Derraparam às vezes nas humanas fragilidades. Sofreram de ciúmes em estereofonia. Sentiram a solidão maior do prazer absoluto. Arriscaram os pudores da pele. Renderam-se aos sentidos com a vertiginosa seriedade das crianças. Viveram em triângulos expostos, crucificaram-se em êxtases que ainda hoje escandalizam um mundo pouco sensível à religião da intimidade. Anäis Nin, Henry Miller e June repousam agora num paraíso circular de sedução ao lado de Frida Kahlo, Diego Rivera e Léon Trotski. E de Lou Salomé, Friedrich Nietzche e Paul Rée. Um paraíso onde Alma Mahler, que aparentemente gastou no nome a sua capacidade de essência, arrastará uma pomposa cauda de talentos: Gustav Mahler, Walter Gropiu, Oskar Kokoschka e Franz Werfel. (...)
Estes seres tinham em comum o desprezo pela felicidade, incapaz de suportar a febre e a alegria negra da dilaceração. Viviam de resurreição em resurreição: eram budistas tântricos sem método: libertavam energias que não sabiam controlar, queimavam-se no seu fogo purificador.
(...)
Inês Pedrosa
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