O fenómeno da sedução possui três características fundamentais: a subjectividade, pois o que fascina uma pessoa pode deixar outra indiferente; a desproporção, já que não existe correlação entre a relevância do estímulo e o seu efeito (um simples perfume pode despoletar uma paixão e um documentário televisivo pode mudar a trajectória profissional de um indivíduo); e a imprevisibilidade, pois a atracção do objecto surge de modo fulgurante, invadindo o espaço da pessoa afectada para modificá-lo ligeiramente ou para desordená-lo por completo. Por tudo isto, a sedução não pode ser pensada, planificada ou explicada a priori, as suas causas só são encontradas depois. Os psicólogos falam dessa flecha instantânea para se referir aos detonadores que iniciam um processo de amizade, uma porta que só abre após a misteriosa faísca que surge no momento em que duas pessoas se conhecem.
Cada um apaixona-se por um tipo de pessoa
No âmbito sentimental acontece o mesmo. Todos acreditamos que se trata do terreno da sedução por excelência, mas uma relação estável baseia-se no carinho, na admiração, no interesse ou noutras razões que fazem que o vínculo seja firme e não necessariamente satisfatório. Por isso, seria melhor falar em paixão, um sentimento que nunca se experimenta por conveniência.
Embora elementos como o dinheiro possam disfarçar de sedutor quem os possui, o processo de deixar-se arrebatar por uma pessoa é sincero, espontâneo e esmagador. Os psicólogos não sabem ao certo por que motivo acontece mas, nas três ou quatro ocasiões em que isso se produz ao longo da vida, rendemo-nos a gente parecida, a pessoas que, embora possam ter aspectos distintos, possuem características fisicas ou psicológicas semelhantes.
O segredo, por conseguinte, não reside no outro e nas suas características, mas sim em nós mesmos e nos nossos próprios gostos. Em concreto, cada qual é sensível a determinadas tipologias humanas, embora, neste jogo, alguns sejam os "engatatões" e outros os propensos a apaixonar-se.
Mais adiante, quando a paixão começa a arrefecer e é substituída pelo amor, o que nem sempre acontece, a sedução perde efervescência e o mistério dilui-se. Nessa altura, conhecemo-nos mais, mas seduzimo-nos menos.
(...) A vida oferece-nos grandes doses de beleza e a passagem do tempo ensinou-nos a saber onde encontrá-la. Ellen S. Berscheid, investigadora e professora da Universidade do Minnesota, estudou o impacto da atracção estética e a influência inconsciente que exerce nas relações interpessoais para chegar a uma conclusão tão indiscutível como injusta: para os favorecidos, a vida é mais fácil.
Devido ao "efeito de halo", como se designa em psicologia esse mecanismo de avaliação cognitivo, as pessoas de aspecto agradável são consideradas mais inteligentes, honestas e benevolentes, ganham mais dinheiro, ocupam cargos mais importantes e casam com maior facilidade. Em definitivo, seduzem.
Texto da psicóloga Pilar Varela, As Chaves Psicológicas da Sedução.
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