Quando o visitante, o inesperado rapaz
vindo duma noite distante, partir, partiu,
quem vai lembrar o pranto, o rasgão
da morte, o sangue o sangue correndo?
Ele é o eco de passos que não houve
e acordou a clara água de aves
adormecendo a manhã, a raiz fria
de uns dedos sábios e perdidos.
Trouxe o desejo de imaginárias mãos
ele, o despedido, aquele em quem ficamos
cantando os lados claros da noite,
os prédios encobertos de chuva e luz.
Quem era, quem é? Foi um imprevisto
cruzar de linguagem, matinal anúncio
de superfícies marinhas, de ágeis barcos
onde o amor corria. Imagina, rapaz rápido,
teu esforço sobre mim nesta agora despedida,
boca inútil para braços presos, sedução.
O visitante sai, saiu, virá um dia
carregado com o tempo que se rejeitou,
a voz fria, o encanto de chorar desaparecido.
Vestígios, Centelha, 1977
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