Isabel de Sá, Esquizo Frenia, &etc, Lisboa, 1979
JOANA FIGUEIREDO - A REALIZADORA
APAIXONOU-SE PELO CINEMA AOS 15 ANOS E PROMETE SER-LHE FIEL ATÉ AO FIM DA VIDA. PRESTES A REALIZAR UM FILME SOBRE FADO, ACREDITA QUE QUEM VIVE SEM ARTE PASSA FOME
DIZ QUE PRECISA DE BELEZA de beleza. Precisa de sentir e ver a beleza à sua volta. Quer dá-la a toda a gente. Partilhar essa alegria que encontra na beleza. O cinema foi o meio que escolheu para o fazer. Decidiu-o há 16 anos, no auge da adolescência. Depois, a consciência do caminho concedeu-lhe o dom da contemplação. Chama-se Maria Joana Figueiredo, tem 31 anos, e, enquanto espera poder realizar a sua primeira longa-metragem, trabalha como assistente de montagem, faz vídeos e documentários, e canta o fado. (...)
A poesia. Filmar a poesia. Filmar a palavra. É isso que quer. Unir as fantasias de infancia às convicções de adulta.(...) Em casa, ainda muito miúda, recorda as explicações da mãe ao irmão mais velho sobre os filmes de Fellini, Antonioni e Bunuel. Com 15 anos foi à procura do cinema português e descobriu Fernando Lopes. Três anos depois, assim que entrou para a Escola de Cinema decidiu fazer videoclips de poemas. "A poesia é o que existe de mais parecido com a construção de um filme, a montagem, a realização. Em cada poema há pedacinhos de vida e de emoções", diz.
Di-lo depois de se ter extasiado com o cinema de Godard. Depois de ter vivido um ano de Erasmus em Munique e de ter feito "Ah, não ser eu, toda a gente e toda a parte", 0 documentário que lhe valeu em 2001 o Prémio Jovens Criadores. Depois de ter estagiado como assistente de montagem com Teresa Villaverde e trabalhado com película. Depois de ouvir e entrar no universo de Cesariny durante os cinco meses em que montou o documentário que a RTP dedicou ao poeta. Depois de ter frequentado o curso de Escrita para Argumento da Fundação Gulbenkian. Depois de ter encontrado a palavra cantada, o modo como define o fado a que se dedica como amadora quase noite sim, noite sim, na sua vizinha Alfama. Depois de ter a certeza do que quer fazer.
"Vou filmar o fado", afirma. Não importa o tempo que isso demore. É que foi com o fado que descobriu o ritmo, a sua maneira de dizer, a sua forma de sentir. (...) "A única coisa que me assusta é que a cultura possa não fazer parte da vida das pessoas. É ela que nos ensina a ver os outros. É como um alimento. É tão necessária como comer todos os dias", argumenta, defendendo o cinema como a arte perfeita. "A vida não é plana. Tem camadas. Tem volume. Quantos níveis de leitura tem cada filme?
Texto de Alexandra Carita, actual, Expresso, Abril 2009.
Sem comentários:
Enviar um comentário