Poema de Manuel de Freitas
RUE DU MARCHÉ AUX HERBES
Desta vez foi o teu corpo
-não o sabias tão sensato -
quem tudo fez para impedir o poema,
versos a doer nos músculos.
A cidade adormece, num langor
de puta velha, depois de ter
anestesiado centenas de turistas
com luz inepta e música de encomenda.
Nós, de pé, apenas pedíamos sombra
e eu preferia não situar na Grand Place
uma discreta canção de Brel,
que teve a sorte de morrer
antes de ver a cidade reduzida
a estábulo dos príncipes da mediocridade;
esses que decidem o futuro que não há
e usam gravatas de seda enquanto nos exterminam.
A cidade adormece, cansada de ser puta,
enquanto nós, menos putas,
procuramos em vão esse luxo.
E há baratas, não propriamente
alaúdes, no cerco abrupto das janelas.
Manuel de Freitas, Intermezzi, Op.25, Editora Opera Omnia, Guimarães, 2009
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