(...)
A pura razão crítica
E aqui reside um outro motivo polémico deste livro: que critério poderá levar JMM a expulsar da sua cidade ( explicita ou implicitamente) poetas como Ramos Rosa ou Gastão Cruz ( e toda a Poesia 61 em geral, com a excepção de Luiza Neto Jorge) e a acolher com tão boa vontade outros que nem são reconhecidos como poetas (refiro-me a Pedro Ayres de Magalhães) ou caíram no irremedível esquecimento público por serem considerados irrelevantes (por exemplo: António Manuel Couto Viana)? Joaquim Manuel Magalhães sabe perfeitamente que, sozinho, por mais autoridade que tenha, dificilmente sanciona um poeta e reabilita outro. Geralmente, isso não acontece senão através de mecanismos de reconhecimento colectivo. E também sabe o quanto existe de paranóico e de desrazão no acto de sustentar uma tese contra uma comunidade inteira - de intelectuais, de críticos - por mais cretina que ela seja. (...)
António Guerreiro, Expresso, 26 de Agosto de 1989
(...) creio que a relevância da crítica para a aceitação deste ou daquele autor se tornou talvez menor do que há 40 ou 50 anos - digamos no tempo de um João Gaspar Simões -, quando a palavra do crítico A ou do crítico B adquiria um peso decisivo (e talvez excessivo). O reconhecimento público de um determinado livro passa hoje por dois tipos de mecanismos diferentes, que podem aliás complementar-se: os primeiros obedecem a um ritmo muito rápido (cerca de três meses ou pouco mais) e dependem de estratégias de promoção editorial - lançamentos, entrevistas, pré-publicações, campanhas que levam os escritores a apresentar as suas obras pelo país ou pelo mundo fora, etc. Os segundos, de ritmo muito mais lento, implicam uma progressiva consagração crítica, sujeita a altos e baixos, que pode demorar longos anos e se dá sobretudo no espaço das universidades ou das chamadas revistas literárias - não forçosamente universitárias - cujos artigos podem sair muito tempo depois da publicação dos livros. Nada disto constitui novidade para ninguém - é apenas um retrato da situação actual e não entendo como pode sequer suscitar polémica.
Fernando Pinto do Amaral, revista Apeadeiro, nº3, Quasi Edições, 2003
2 comentários:
não podia deixar de estar atento a este post. sou um grande apreciador da obra poética do farense antónio ramos rosa. gosto deste blog.
também adoro a poesia do Ramos Rosa. Segundo me parece, o A.G. diz nessa mesma crítica que JMM não ceita poetas que fecham a sua poesia dentro da própria poesia. Não percebo como pode isto aplicar-se ao Ramos Rosa e não se aplicar ao Herberto Helder... mas há razões que os críticos não podem dizer que têm...
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