quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Paulo da Costa Domingos
Fragmento de NARRATIVA
frenesi, Lisboa, 2009
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À escala da Via Láctea, mais nos vale ficar quietos. Ouvir com atenção uma sonata de Schubert (D821), sentida por Rostropovich e Britten: ou voltar a Elizabeth Wallfisch/Richard Boothby/Robert Woolley (LA Folia). Não mais poderei dizer, como Baudelaire, referindo-se à sua meninice, «eu era tão alto como um in-fólio», nem como Cervantes, que «passo as noites em claro e os dias na escuridão». De idêntico modo é-me impossível garantir-vos que, para melhor, deviéis tudo abandonar, num quietismo necessariamente comprometido com as forças trabalhadeiras da morte. Entendo que vos seja possível sentir já o cansaço de uma pertinência de que, porventura, não partilhais; e que nada tereis colhido, pois, na leitura. »De facto, o que escrevi não contém, em particular, nenhuma pretensão a novidade», até Wittgenstein o disse em Viena; mas permiti-me - filhos, netos, bisnetos da guerra civil intermitente, enfants perdus a quem Shakespeare exortaria: Ah, como a vida é breve; se vivemos, vivemos para derruir o que nos oprime»-,(...)

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