Galeria Graça.Brandão - Lisboa
Rua dos Caetanos, 26, Bairro Alto
UM ESPAÇO FABULOSO
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
JUKEBOX - 4 POEMAS DE MANUEL DE FREITAS
JOY DIVISION
Arrastávamos por adegas e cocheiras
um tremor de ganza e de
mau vinho, um destino sem razão.
E julgávamo-nos urbanos,
suburbanos- como se a dor tivesse
tempo a perder com geografias
ou nos pudessem valer esses corações
de plástico, colados a t-shirts pretas.
«Here are the young men»,
agora que se tornou inútil
contar de novo a ninguém
aquele sorriso enforcado
que durará até ao fim do mundo.
NICK CAVE & THE BAD SEEDS, 2001
Agora que Nick Cave já passou
dos quarenta ( e a nós, Rui,
pouco nos falta) nem vale a pena
reparar na dança irrequieta do violino
ou dos actorzinhos de merda
que vieram substituir os punks,
os skins, outras modas igualmente tristes.
Vinte anos depois - como tu gostas
de sublinhar -, não sabemos já o que fazer
à morte, a este inútil sobejo de vida que
deixámos de mostrar aos porteiros da noite
ou do inferno, coisas de que podemos
enfim sorrir. Mas as lágrimas, de
há vinte anos, talvez fossem preferíveis.
PINA BAUSCH, 2008
Muller,
Café Muller.
A morte sabe onde fica.
PORTISHEAD,1999
«Las rosas de papel son, en verdad,
demasiado encendidas para el pecho.»
JAIME GIL DE BIEDMA
«It could be sweet» - mas a verdade
é que nunca mais foi tão contundente
a bruma dos eléctricos no Loreto,
enquanto, pela primeira vez,
os meus braços já não queriam desistir.
Dançava até ao fim da noite nos últimos bares
e escrevia poemas sobre ti, invariavelmente:
rosas mal acesas neste peito de papel,
gestos que só o excesso e o desejo perdoavam.
Desconhecia ainda que vida, amor
ou morte são palavras insonoras,
coisas que não se dizem
mas inquinariam, tanto tempo depois,
os passos todos que não demos,
as manhãs que nos encontraram juntos.
Arrastávamos por adegas e cocheiras
um tremor de ganza e de
mau vinho, um destino sem razão.
E julgávamo-nos urbanos,
suburbanos- como se a dor tivesse
tempo a perder com geografias
ou nos pudessem valer esses corações
de plástico, colados a t-shirts pretas.
«Here are the young men»,
agora que se tornou inútil
contar de novo a ninguém
aquele sorriso enforcado
que durará até ao fim do mundo.
NICK CAVE & THE BAD SEEDS, 2001
Agora que Nick Cave já passou
dos quarenta ( e a nós, Rui,
pouco nos falta) nem vale a pena
reparar na dança irrequieta do violino
ou dos actorzinhos de merda
que vieram substituir os punks,
os skins, outras modas igualmente tristes.
Vinte anos depois - como tu gostas
de sublinhar -, não sabemos já o que fazer
à morte, a este inútil sobejo de vida que
deixámos de mostrar aos porteiros da noite
ou do inferno, coisas de que podemos
enfim sorrir. Mas as lágrimas, de
há vinte anos, talvez fossem preferíveis.
PINA BAUSCH, 2008
Muller,
Café Muller.
A morte sabe onde fica.
PORTISHEAD,1999
«Las rosas de papel son, en verdad,
demasiado encendidas para el pecho.»
JAIME GIL DE BIEDMA
«It could be sweet» - mas a verdade
é que nunca mais foi tão contundente
a bruma dos eléctricos no Loreto,
enquanto, pela primeira vez,
os meus braços já não queriam desistir.
Dançava até ao fim da noite nos últimos bares
e escrevia poemas sobre ti, invariavelmente:
rosas mal acesas neste peito de papel,
gestos que só o excesso e o desejo perdoavam.
Desconhecia ainda que vida, amor
ou morte são palavras insonoras,
coisas que não se dizem
mas inquinariam, tanto tempo depois,
os passos todos que não demos,
as manhãs que nos encontraram juntos.
JUKEBOX 2, de Manuel de Freitas, com uma fotografia de Inês Dias, foi composto por Paulo Araújo (Teatro de Vila Real) e impresso na Dom Texto, em Outubro de 2008, numa tiragem de 400 exemplares.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
AS CÉLEBRES MESAS DE ALLEN JONES
JEMIMA STEHLI - O AUTO-ELOGIO DO NU
A artista britânica Jemima Stehli é conhecida por batalhar contra as noções de narcisismo, usando o seu próprio corpo, nu, como arma de arremesso. Para isso , serve-se da câmara, transformando-se, ela própria, em sujeito e objecto da imagem. (...) É com estas ousadias performativas que Jemima pretende garantir uma osmose entre a escultura e a fotografia, sendo o seu corpo a base da matéria. Helmut Newton, Allen Jones e Larry Bell são algumas das influências da artista, havendo mesmo trabalhos seus que passam por aliar referências icónicas destes criadores. (...)
Texto de Daniel Faiões, Cultura e tendências urbanas
Trabalhos desta artista patentes na Galeria Lisboa 20 Arte Contemporânea, Rua Tenente Ferreira Durão, 18-B, LISBOA . Até 31 de Outubro. Das 14h./20h. Sáb. 12h./20h.
domingo, 25 de outubro de 2009
sábado, 24 de outubro de 2009
Soneto de Giuseppe Gioachino Belli - Tradução de Alexandre O'Neill
LA VITA DELL'OMO
Nove mesi a la puzza: poi in fasciola
tra sbaciucchi, lattime e lagrimoni:
poi p'er laccio, in ner crino, e in vesticciola,
cor torcolo e l'imbraghe per carzoni.
Poi comincia er tormento de la scola,
l'abbeccé, le frustate, li geloni,
la rosalía, la cacca a la sediola,
e un po' de scarlattina e vormijoni.
Poi viè l'arte, er diggiuno, la fatica,
lo spedale, li debbiti, la fica,
er zol d'istate, la neve d'inverno...
per urtimo, Iddio ce' benedica,
è la morte, e finisce co l'inferno.
A VIDA DO HOMEM
Nove meses no fedor, depois nas faixas,
por entre crostas, beijocas, lagrimonas.
Depois à trela, na andadeira, em camisinha,
pára-turras na testa, cueiros por calções.
Depois começa o tormento da escola,
o á-bê-cê, a vergasta e as frieiras,
a rubéola, a caca na cagadeira
e um pouco de escarlatina e de bexigas.
Depois o ofício, o jejum, a trabalheira,
a pensão a pagar, as prisões, o governo,
o hospital, as dívidas, a crica,
o sol no verão, a neve no inverno...
E por último- e que Deus nos abençoe!-
vem a morte, e acaba no inferno.
Nove mesi a la puzza: poi in fasciola
tra sbaciucchi, lattime e lagrimoni:
poi p'er laccio, in ner crino, e in vesticciola,
cor torcolo e l'imbraghe per carzoni.
Poi comincia er tormento de la scola,
l'abbeccé, le frustate, li geloni,
la rosalía, la cacca a la sediola,
e un po' de scarlattina e vormijoni.
Poi viè l'arte, er diggiuno, la fatica,
lo spedale, li debbiti, la fica,
er zol d'istate, la neve d'inverno...
per urtimo, Iddio ce' benedica,
è la morte, e finisce co l'inferno.
A VIDA DO HOMEM
Nove meses no fedor, depois nas faixas,
por entre crostas, beijocas, lagrimonas.
Depois à trela, na andadeira, em camisinha,
pára-turras na testa, cueiros por calções.
Depois começa o tormento da escola,
o á-bê-cê, a vergasta e as frieiras,
a rubéola, a caca na cagadeira
e um pouco de escarlatina e de bexigas.
Depois o ofício, o jejum, a trabalheira,
a pensão a pagar, as prisões, o governo,
o hospital, as dívidas, a crica,
o sol no verão, a neve no inverno...
E por último- e que Deus nos abençoe!-
vem a morte, e acaba no inferno.
FOTOS DE PAULO NOZOLINO
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
terça-feira, 20 de outubro de 2009
POEMA DE ANA LUISA AMARAL
CONSTELAÇÕES
Usamos todos a ilusão
de fabricar a vida:
história, constelações
de sons e gestos
Usamos todos a suprema glória
do amor: por generosidade
ou fantasia, ou nada, que de nada se fazem
universos
Usamos todos mil chapéus de bicos
mal recortados e de encontro
ao sol:
o nosso mais perfeito em franja e bico
e um arremedo tal e seicentista
que ofuscando-se: o sol
de pó de vento, ou de rio
sem pé: único dom de fabricar o tempo
em raiz de palmeira
ou de cipreste
domingo, 18 de outubro de 2009
POEMAS DO LIVRO ESTÁDIO - MANUEL DE FREITAS
para o Alexandre Sarrazola
Lembro-me, de repente, que já
estive em cada uma destas mesas,
com mortos e vivos que prefiro
não nomear - enquanto se apequena
(ou avoluma?) a nenhuma diferença:
mãos que nos tocaram, que apodrecem,
que brindaram e morreram.
Demasiado connosco, até nisso.
Estas mesas azuis,
tão dolorosamente concretas,
o roxo sem perdão da jukebox.
Parece, de repente, que nunca
falei de outra coisa (e aquilo
de que falei, afinal, não existe).
Vejo as sombras, os rostos
que se despedem, um a um,
da mentira de estarmos vivos.
Peço outra cerveja, inventamos
juntos uma razão para ficar.
Mas eu só gostava, no fundo, que
o inferno também fechasse às duas.
Estádio, (Janeiro-Dezembro de 2007) de Manuel de Freitas, com capa e um desenho de Luís Henriques, é uma edição dos autores composta e paginada por Pedro Serpa. Edição limitada, números assinados. Fevereiro de 2008.
Lembro-me, de repente, que já
estive em cada uma destas mesas,
com mortos e vivos que prefiro
não nomear - enquanto se apequena
(ou avoluma?) a nenhuma diferença:
mãos que nos tocaram, que apodrecem,
que brindaram e morreram.
Demasiado connosco, até nisso.
Estas mesas azuis,
tão dolorosamente concretas,
o roxo sem perdão da jukebox.
Parece, de repente, que nunca
falei de outra coisa (e aquilo
de que falei, afinal, não existe).
Vejo as sombras, os rostos
que se despedem, um a um,
da mentira de estarmos vivos.
Peço outra cerveja, inventamos
juntos uma razão para ficar.
Mas eu só gostava, no fundo, que
o inferno também fechasse às duas.
Estádio, (Janeiro-Dezembro de 2007) de Manuel de Freitas, com capa e um desenho de Luís Henriques, é uma edição dos autores composta e paginada por Pedro Serpa. Edição limitada, números assinados. Fevereiro de 2008.
sábado, 17 de outubro de 2009
domingo, 11 de outubro de 2009
WERTHER de GOETHE
(...)Depois de o debater, os sábios concluem que os animais se não suicidam; quando muito, alguns - cavalos, cães - sentem vontade de se mutilar. É, porém, a propósito de cavalos que Werther salienta a nobreza que assinala todo o suicídio:« Fala-se de uma nobre raça de cavalos que, quando terrivelmente excitados, esgotados, têm o instinto de abrir eles próprios uma veia, com uma dentada, para respirar livremente. Assim se passa comigo muitas vezes: desejaria abrir uma veia para garantir a liberdade eterna.»
Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes
WE HAVE DECIDED NOT TO DIE
We Have Decided Not to Die-Daniel Askill-2003-11'
by TiKris
postagem de Ana Abrunhosa em Julho de 2009
ARY DOS SANTOS
Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos devagar devagar.
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.
Meu limão de amargura meu punhal a escrever
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos do nosso entristecer.
Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento
este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos devagar devagar.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
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