sexta-feira, 20 de novembro de 2009

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE INVEJA E GRATIDÃO - MELANIE KLEIN

Melanie Klein (1882-1960), uma psicanalista que trabalhou com crianças através da técnica dos brinquedos, explorando o inconsciente.


FUNDAMENTOS TEÓRICOS: NOÇÕES

Melaine Klein começou a trabalhar com a psicanálise infantil na década de 20, lançando uma nova luz sobre o seu desenvolvimento.

Freud relatava que todos os problemas se originam na infância, mas a psicanalista Melanie Klein, sua aluna e discípula, foi a primeira a realizar, estudos com crianças.

Ela desenvolveu a técnica de brincar, inspirada nas observações de Freud sobre o brincar da criança com carrinhos.

Melanie percebeu que isso representava simbolicamente as ansiedades e fantasias infantis. Assim, tratou os seus pequenos pacientes na sala de recreio, e foi lá que descobriu o caminho para o inconsciente da criança.

Austríaca, mas famosa como psicanalista britânica, Klein exerceu a sua profissão em Londres e até hoje os seus trabalhos permanecem actuais e fundamentais nos diagnósticos e tratamentos tanto para crianças como para adultos.

Em janeiro de 1929, começou a tratar de uma criança autista de quatro anos, filho de um dos seus colegas da BPS, à qual deu o nome de Dick. Logo percebeu que ele apresentava sintomas que ela nunca havia encontrado. Não expressava nenhuma emoção, nenhum apego, e não se interessava pelos brinquedos. Para entrar em contacto com ele, colocou dois comboios lado a lado e designou o maior como “comboio pai” e o menor como “comboio Dick”. Dick fez o comboio com o seu nome andar e disse a Melanie: “Corta!”. Ela desengatou o vagão de carvão e o menino guardou então o brinquedo quebrado numa gaveta, exclamando : “Acabou!”.

A história desse caso tornar-se-ia célebre, por mostrar como alguns psicanalistas não conseguem dar aos filhos o amor que esperam deles.

Dick continuou a análise com Melanie Klein até 1946, com uma interrupção durante a Segunda Guerra Mundial.

Quando Phyllis Grosskurth se encontrou com ela, então com cerca de 50 anos, não tinha mais nada a ver com o menino fechado de outrora. Era até francamente tagarela.

Em 1995, Melanie Klein, que nada perdera do seu dinamismo e da sua agressividade, interveio de maneira esmagadora no Congresso da IPA em Genebra, apresentando uma comunicação intitulada “Um estudo sobre a inveja e a gratidão”, na qual desenvolvia o conceito de inveja, que articulava com uma extensão da pulsão de morte, à qual dava um fundamento constitucional. Ao fazer isso, reatava com aquele que sempre considerara o seu mestre, Karl Abraham.

Diferentemente de Ana Freud, Melanie Klein considerava o brincar como um material susceptível de interpretação no quadro da situação transferencial. As brincadeiras eram a seu ver equivalentes às fantasias, dando acesso à sexualidade infantil e à agressividade: em torno delas podia instaurar-se uma relação transferencial e contra-trasferencial entre a criança e o analista.

Melanie Klein conferiu lugar capital à pulsão de morte, conceito que no entanto estava longe de gozar de unanimidade no seio do mundo psicanalítico. Radicalizando a posição de Freud, fez da angústia a consequência directa da acção da pulsão de morte no seio do organismo. Essas considerações estavam também presentes na sua concepção das fases ou posições por que a criança passava: a posição esquizo-paranóide, que traduziria o modo de relação dos quatro primeiros meses da existência, seria caracterizada por uma união entre as pulsões sexuais e as pulsões agressivas, por um objecto vivido como parcial e clivado em “bom” (gratificante) e “mau” (frustrante). “Na posição paranóide-esquizóide” , escreve Hana Segal, “a angústia dominante provém do temor de que o objecto ou os objectos persecutórios penetrem no eu, esmagando ou aniquilando o objecto ideal e o “self”. Dois mecanismos psíquicos seriam dominantes nessa fase: a introjecção e a projecção. Instalando-se por volta dos quatro meses, a posição depressiva dá lugar à posição paranóide, sendo por sua vez superada por volta do final do primeiro ano. O objecto já não é parcial, podendo ser apreendido pela criança como total, a clivagem “bom”-“mau” já não é tão categórica como outrora, a angústia é de natureza depressiva e está ligada ao temor de perder e de destruir a mãe. Em face de suas angústias, a criança desenvolve vários tipos de defesa e de actividades reparadoras, que constituem a primeira fonte da criatividade e da sublimação. A posição esquizo-paranóide e a posição depressiva voltam a estar presentes posteriormente na vida, em especial no adulto acometido de paranóia, de esquizofrenia ou de estados depressivos.


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