sábado, 21 de novembro de 2009

POEMAS DE SAFO

...Hermes,
longamente te invoquei na minha solidão:
ajuda-me, déspota, que estou perdida;
a morte não chega e nada me consola.

Quero morrer, quero ver as orvalhadas
flores de loto nas margens do Aqueronte...

...porque a quem fiz tanto bem,
sobretudo esses me fizeram mal.

Nem eu sei que fazer: o pensamento dividido.

Vieste finalmente. Eu não podia mais.
Ao meu coração ardido o desejo voltou.
Abençoada sejas muitas vezes, tantas
quantos os dias que nos separaram.

Se ela te foge, seguir-te-á não tarda;
se o que lhe dás recusa, em breve será ela
a dar; se te não ama, sem saber como,
virá a amar-te.»

Oh vem, vem agora e liberta-me desta
angústia mortal! O que meu coração
tanto deseja, faz que aconteça. Vem,
ajuda-me a lutar!

Deixa-te estar de pé e face a face amigo,
desvenda a tua graça aos nossos olhos.

Quando o sono de uma noite inteira
cai sobre os olhos...

Ah, pudesses tu dormir
nos braços da mais terna amiga...

...porque o pranto na casa de um poeta
não é permitido, nem isso convém.

Safo

Poemas e Fragmentos de Safo, tradução de Eugénio de Andrade, limiar, 1974


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