quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Poema de Manuel de Freitas

LONELY CHRISTMAS JOINT

Espero que me desculpes a banalidade
do enredo. As primas deitaram-se,
cansadas de povoar o mundo,
e os pais e tios procuram um calor
que não seja ainda a morte.
A Noémia, a avó e a irmã
deixaram entretanto de ser vistas.

Mas trocaram-se prendas, no intervalo
dos sorrisos, e abraços anuais
no intervalo das prendas. O frio, ao menos,
revelou-se coerente e natalício.
Fez durar um pouco mais o coração
refogado, numa adega sem saída.

É sempre assim: há quem se habitue
e há quem fume um charro,
à espera de nenhum poema. As diferenças
tácitas entre os mortos darão esta noite
muito que pensar a Herodes.

TERRA SEM COROA, teatro de vila real, Outubro de 2007

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