NEXT TO NOTHING
Não acordei com o teu corpo,
mas com um verso
que me parece agora
o mais triste do mundo:
Le tuve tan cerca.
Foi verdade, foi tão depressa
mentira - acabarmos juntos
no último bar. Ou apertar-te
em plena desrazão os ombros,
o pescoço baixo,
a cor indecisa dos cabelos.
Enquanto se partem tão
tristes os tristes copos
que nessa noite derrubei - e eras tu.
Não sei o que te disse, que
outras partes de quem foste
toquei ou perdi. De quaquer modo,
perdi. E foi, só podia ser,
demasiado triste: dois corpos
que ninguém via desciam a Rua
da Misericórdia, já perto da manhã.
Aquela nenhuma distância
não pôde ser um beijo. Apenas derrota,
ressaca, mais uma canção sem nós.
Tu não sabes - e ainda bem - que
este homem te desejou todas as noites,
até que fechasse o bar. Este homem
que não deseja e que tem,
infelizmente , um nome igual ao meu.
Da próxima vez, quero estar menos
bêbado, saber se apanhámos
ou não o mesmo táxi. Mas
«da próxima vez» nunca existirá.
A ÚLTIMA PORTA, selecção e posfácio de José Miguel Silva, ASSÍRIO & ALVIM, 2010
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