segunda-feira, 30 de agosto de 2010
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Poderia gastar muita tinta a escrever sobre um corpo ou vários. Porém apenas o instante do encontro é precioso. Viver a cena sem palavras, o ritual.Na penumbra os corpos tocam-se antes da sílaba inaugural. Começar é sempre um escândalo, é desviar a instituição da sua verdadeira finalidade e da sua inocência.
Isabel de Sá
do livro Em Nome do Corpo, edições Rolim. Lisboa, 1986
Isabel de Sá
do livro Em Nome do Corpo, edições Rolim. Lisboa, 1986
STEPPENWOLF - LOBO DA ESTEPE - de HERMANN HESSE - PRÉMIO NOBEL DA LITERATURA
A BÍBLIA DOS ANOS 60 E 70 - LOBO DA ESTEPE - de HERMANN HESSE
O Lobo da Estepe não é um romance fácil. Ainda mais num mercado que é avesso aos valores que o livro propõe - um mundo em que a ideia de auto conhecimento é valorizada, e se colocam questões sobre os lugares comuns de uma sociedade formatada e repleta de estratégias de marketing e vendas a que chamamos Cultura. O outro "lado", do espírito, da alma, o nosso mundo interior, a nossa "ilha", no conceito de Rousseau, não interessa a ninguém, a não ser a meia duzia de "loucos como nós?", pergunta a dado momento Harry Haller, o protagonista do Lobo da Estepe, um outsider, um misantropo de cinquenta anos, alcoólico e intelectual, invadido pela angústia e que não vê saída para a sua tormentosa condição. Todo o problema do personagem do livro de Hermann Hesse é um permanente mal-estar cuja fonte é a inadequação do seu espírito à sociedade, à "Cultura de Massas" e à vulgarização burguesa da vida e dos valores. É por isso que ele se define como "lobo da estepe". A obra apresenta inspiração surrealista pela valorização do sonho e da fantasia, influências herdadas da psicanálise de Carl Jung e Freud, influências da filosofia oriental e autobiográfico sem sombra de dúvida. Crítico do militarismo alemão, do nacional-socialismo e da guerra, Herman Hesse preocupa-se também com as grandes questões sociais e políticas do seu tempo. Nos seus livros está sempre presente o sonho da conjugação entre a tradição da Ásia e da Europa e a síntese entre o apolíneo e o dionisíaco, profetizada por Nietzsche. Deste pensador o autor herda a ideia de que a vontade de poder, expressa na luta entre valores antagonicos, é que torna a realidade social, política e economica compreensível. É desta noção que surgem as histórias de ambivalência e de tensão humanas que marcam a sua obra. A mensagem que fica deste grandioso romance são as indagações espirituais, comportamentais e de análise da sociedade de Harry Haller, que se configuram como um dos mais completos tratados sobre o ser humano. O personagem principal – que pode ser visto como um alter-ego do autor – dividido entre o seu lado “homem” e o seu lado “lobo”, confrontado por não se encaixar na sociedade mas mesmo assim, a ter que viver nela, a odiar a burguesia sem negar o seu conforto, encontra-se entregue aos seus próprios rumos, trilhando o seu próprio caminho, fazendo novas descobertas, repensando os seus valores e alcançando a felicidade em coisas tidas como impensáveis, anteriormente. Sofrimento, dúvida, perda, desagregação; tudo elevado ao extremo que um ser humano pode suportar, o que faz de o Lobo da Estepe um livro difícil de ser lido não só pela complexidade mas sobretudo pelo profundo questionamento que nos leva a interrogar-nos permanentemente. Haller redescobre-se a si mesmo, depara-se com novos mundos, novos amigos, outras atmosferas, encontra dolorosamente o seu interior para finalmente ser integrado. “Só para Loucos” avisa Hermann Hesse no início do romance. Um conselho que não pode ser desprezado. Enredo original, trama fantástica e envolvente. Clássico indispensável da literatura alemã e mundial, é um livro para quem quer sair do egocentrismo e alcançar o desenvolvimento de forma plena . Neste romance também se compreende que o ser humano é multifacetado, tem muitas vozes dentro de si, divide-se em comportamentos variados e opostos. Um bom romance para férias.
sábado, 14 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Agosto
1.
A tua pele fulminava
o que subsistia de claridade
e de vida.
Tornei-me exterior a tudo.
Os meus amigos reconhecem
mudanças subtis
e quando alguém
me olha, desvio-me.
Os canteiros secos, nas praças
exibem a proximidade da morte
como um aviso.
Temo a agressão silenciosa.
Estar contigo
foi perceber que a dor é definitiva.
Não sei se rejeito totalmente o mundo,
mas relaciono-me com ele
estranhamente.
Agora sei que a morte
pode vir de qualquer parte
em todos os segundos.
Vila Real. 28.8.09
João Borges
A tua pele fulminava
o que subsistia de claridade
e de vida.
Tornei-me exterior a tudo.
Os meus amigos reconhecem
mudanças subtis
e quando alguém
me olha, desvio-me.
Os canteiros secos, nas praças
exibem a proximidade da morte
como um aviso.
Temo a agressão silenciosa.
Estar contigo
foi perceber que a dor é definitiva.
Não sei se rejeito totalmente o mundo,
mas relaciono-me com ele
estranhamente.
Agora sei que a morte
pode vir de qualquer parte
em todos os segundos.
Vila Real. 28.8.09
João Borges
Uma ferida na existência
Deixa o dia cerrar fileiras
depois do cansaço reúne
em teu redor o seu fulgor
derradeiro.
Uma camisa aqui, a escova de dentes,
livros, no chão a alma
suficiente para novos lábios
desfazerem o ferido afecto.
A tua vida espalha-se como o mercúrio
solto há-de voltar a juntar-se
por virtude tua ou coragem
porque mesmo derrotado
o sonho é um abrigo iluminado pela inquietude,
uma ferida na existência.
Fernando Luís Sampaio
de Escadas de Incêndio
depois do cansaço reúne
em teu redor o seu fulgor
derradeiro.
Uma camisa aqui, a escova de dentes,
livros, no chão a alma
suficiente para novos lábios
desfazerem o ferido afecto.
A tua vida espalha-se como o mercúrio
solto há-de voltar a juntar-se
por virtude tua ou coragem
porque mesmo derrotado
o sonho é um abrigo iluminado pela inquietude,
uma ferida na existência.
Fernando Luís Sampaio
de Escadas de Incêndio
I - Credo quia absurdum
Creio na vastidão ilimitada dos amores humanos
esses amores que se fundem com os domínios
inelutáveis da dor: o amor, essa claridade
que não alcançou em nossos dias
a recôndita certeza dos deuses
Amores
frágeis sob o voo irisado das aves, amores
de uma noite profunda ou de uma tarde amena
entre o regaço de outras mãos. Amores
de um país onde tudo se esquece entre
uma aurora e outra.
Paulo Teixeira
de As Imaginações da Verdade
esses amores que se fundem com os domínios
inelutáveis da dor: o amor, essa claridade
que não alcançou em nossos dias
a recôndita certeza dos deuses
Amores
frágeis sob o voo irisado das aves, amores
de uma noite profunda ou de uma tarde amena
entre o regaço de outras mãos. Amores
de um país onde tudo se esquece entre
uma aurora e outra.
Paulo Teixeira
de As Imaginações da Verdade
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
COMO ESQUECER - da realizadora brasileira Malu de Martino, com Ana Paula Arósio.
Alguns momentos na vida de uma professora de literatura inglesa, lésbica, que luta para recomeçar a sua vida após um desgosto de amor. O filme estreia em Outubro no Brasil, espero que chegue a Portugal.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Junho
O rapaz dos amores
amansa o coração.
As mãos, já tão próximas,
desfazem-se na penumbra.
Por que roubas destes lábios
punhados de luz para queimar?
O eclipse acerca-se e afunda
o esmalte dos meus olhos.
E deixo-te, varado e áspero,
de arpão em punho, até ao fim.
Fernando Luís Sampaio
Desfocados Pelo Vento, A poesia dos Anos 80 Agora, Antologia. Selecção e organização de valter hugo mãe, edicões Quasi, 2004
amansa o coração.
As mãos, já tão próximas,
desfazem-se na penumbra.
Por que roubas destes lábios
punhados de luz para queimar?
O eclipse acerca-se e afunda
o esmalte dos meus olhos.
E deixo-te, varado e áspero,
de arpão em punho, até ao fim.
Fernando Luís Sampaio
Desfocados Pelo Vento, A poesia dos Anos 80 Agora, Antologia. Selecção e organização de valter hugo mãe, edicões Quasi, 2004
terça-feira, 10 de agosto de 2010
RETRATO ARDENTE
Entre os teus lábios
é que a loucura acode
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Eugénio de Andrade
é que a loucura acode
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Eugénio de Andrade
AS PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
domingo, 8 de agosto de 2010
LOVESONG
Ele amava-a e ela amava-o
Os beijos dele sorviam todo o passado e futuro dela ou pelo menos tentavam
Não havia nele outro apetite
Ela mordia-o roía-o sorvia
Queria-o inteiro dentro dela
Salvo e Seguro para sempre e sempre
...
Os sorrisos dele eram as mansardas de um palácio de fadas
Onde o mundo real nunca chegaria
Os sorrisos dela eram mordeduras de aranha
Por isso ele ficaria deitado e quieto enquanto ela tivesse fome
As palavras dele eram exércitos ocupantes
Os risos dela eram tentativas de homicídio
Os olhares dele eram balas punhais de vingança
Os relances dela eram fantasmas à esquina com segredos horríveis
Os suspiros dele eram chicotes e botas que calcavam
Os beijos dela eram homens de lei que escreviam sem parar
...
Os votos dela punham os olhos dele em formol
No fundo falso da gaveta secreta
Os uivos dos dois cravavam-se na parede
As suas cabeças separavam-se no sono como as duas metades
De um melão cortado, mas é difícil parar o amor
No seu sono entrelaçado trocavam braços e pernas
Nos seus sonhos os cérebros dos dois faziam do outro seu refém
De manhã vestiam o rosto um do outro
*Ted Hughes
* marido de Sylvia Plath
Os beijos dele sorviam todo o passado e futuro dela ou pelo menos tentavam
Não havia nele outro apetite
Ela mordia-o roía-o sorvia
Queria-o inteiro dentro dela
Salvo e Seguro para sempre e sempre
...
Os sorrisos dele eram as mansardas de um palácio de fadas
Onde o mundo real nunca chegaria
Os sorrisos dela eram mordeduras de aranha
Por isso ele ficaria deitado e quieto enquanto ela tivesse fome
As palavras dele eram exércitos ocupantes
Os risos dela eram tentativas de homicídio
Os olhares dele eram balas punhais de vingança
Os relances dela eram fantasmas à esquina com segredos horríveis
Os suspiros dele eram chicotes e botas que calcavam
Os beijos dela eram homens de lei que escreviam sem parar
...
Os votos dela punham os olhos dele em formol
No fundo falso da gaveta secreta
Os uivos dos dois cravavam-se na parede
As suas cabeças separavam-se no sono como as duas metades
De um melão cortado, mas é difícil parar o amor
No seu sono entrelaçado trocavam braços e pernas
Nos seus sonhos os cérebros dos dois faziam do outro seu refém
De manhã vestiam o rosto um do outro
*Ted Hughes
* marido de Sylvia Plath
LUZ
Como se enreda na luz o coração
à sombra dos seus mitos e de corpos
tão jovens que já de apercebidos
se movem para longe do nosso olhar
guardando a tábua rasa da ausência.
Como se enreda o coração no corpo
e sem palavras te abandona este poema
e sem razões te alucina e te aprisiona.
Como nos perdemos todos nesta luz
que os corpos trazem como coisa sua
e que só às vezes pousa no poema
e te deixa perdido e só à beira do lume.
Luís Filipe Castro Mendes
de A Ilha dos Mortos, Poesia Reunida (1985-1999)
à sombra dos seus mitos e de corpos
tão jovens que já de apercebidos
se movem para longe do nosso olhar
guardando a tábua rasa da ausência.
Como se enreda o coração no corpo
e sem palavras te abandona este poema
e sem razões te alucina e te aprisiona.
Como nos perdemos todos nesta luz
que os corpos trazem como coisa sua
e que só às vezes pousa no poema
e te deixa perdido e só à beira do lume.
Luís Filipe Castro Mendes
de A Ilha dos Mortos, Poesia Reunida (1985-1999)
sábado, 7 de agosto de 2010
VERDADE
Onde há a palavra, há a verdade. A palavra é usada para conversar e sem verdade não há conversa. Usa-se a palavra para conversar sobre afectos, realidades, crenças, pensamentos, medos, desejos,memórias, futuros e tudo o mais. Sem a verdade, a conversa seria uma mera manifestação de subjectividades solipsistas e imunes ao erro, discursos paralelos sem triangulação possível entre si e a realidade. (...)
A verdade pode fazer-nos infelizes, mas nem por isso desprezar a verdade é o caminho para a felicidade. Quem desprezar a verdade na sua vida emocional e afectiva fica reduzido a viver uma mentira. Se António amar verdadeiramente Cleópatra, não poderá considerar irrelevante a questão de saber se Cleópatra também o ama ou se está apenas a manipulá-lo para obter os seus fins políticos. Desprezar a verdade é perder a conexão com a realidade, concebendo-se a felicidade como um estado meramente subjectivo e solipsista. Deste ponto de vista, é irrelevante para António que Cleópatra o atraiçoe, desde que ele nunca venha a descobrir. Esta noção solipsista de felicidade é ilusória. A felicidade não é um estado mental autónomo e meramente subjectivo, indiferente à realidade, porque é um produto da própria actividade que nos conecta com a realidade: o pensamento sofisticado e complexo. Perder a conexão da felicidade com a realidade é fazer da felicidade uma ilusão.
O egocentrismo é talvez a mentira mais comum da humanidade, e seguramente a mais tentadora. O egocentrismo é a prática - mais do que a ideia - de encarar o eu como o ponto centrípeto em torno do qual todo o universo revolve. A incapacidade para nos vermos exactamente como somos - um entre outros - é uma incapacidade para ver a verdade. Ironicamente, a felicidade torna-se impossível quando o egocentrismo se instala. Porque é realmente falso que cada um de nós é o ponto centrípeto em torno do qual todo o universo revolve - este pensamento é uma contradição lógica -, o egocentrismo implica uma luta perdida à partida contra a realidade e a verdade. É assim que a figura do génio romântico, atormentado e egocêntrico, é simultaneamente a figura de alguém que é infeliz porque se recusa a ver-se como verdadeiramente é e a querer-se como verdadeiramente pode ser. (...)
Desidério Murcho
a minha palavra favorita, Edição Jorge Reis-Sá, Centro Atlântico, 2007
Feridas de Infância
Há feridas que, desde o nascimento, nos vão fazendo acumular medos. E máscaras com que os disfarçamos. Identificar essas feridas é uma forma de nos conhecermos melhor.
HÁ CINCO FERIDAS QUE NOS IMPEDEM DE SERMOS NÓS MESMOS : A ferida da rejeição, a do abandono. A da humilhação, a da traição e a da injustiça – palavras da terapeuta canadiana Lise Bourbeau.
A cada ferida corresponde uma máscara.
A ferida mais antiga é a da rejeição, aquela que mais cedo nos faz sofrer. A forma como evitamos que isso aconteça é fugindo, não enfrentando o que nos magoa. A seguir, vem a ferida do abandono. Quem a tem como ferida principal tende a ter um comportamento dependente. Segue-se a ferida da humilhação, a que corresponde a máscara do masoquista. Quem, desde criança, sofreu sobretudo de traição, disfarça a dor que continua a sentir sempre que essa ferida é activada, controlando tudo e todos. E a máscara criada por quem desde cedo sofreu de injustiça é a da rigidez.
Cada ferida resulta de uma longa acumulação de experiencias.
Todos nós temos maneiras de pensar ou crenças que nos impedem de ser aquilo que, no fundo, ambicionamos ser. E quanto mais essas máscaras nos magoam, mais tentámos escondê-las. Quanto mais uma determinada situação ou pessoa nos faz sofrer, mais o problema vem de longe. Criamos máscaras porque queremos esconder, de nós próprios ou dos outros, algo que ainda não quisemos enfrentar.
Essas máscaras são fortes na proporção da gravidade e profundidade da ferida. E a frequência com que as usamos depende da frequência com que a ferida é activada e do grau de sofrimento consequente. Só as usamos, no entanto, quando nos queremos proteger de alguém ou de alguma situação que, ainda hoje, nos faz sofrer.
Só através de uma atitude interior que não seja de revolta face aos acontecimentos da vida é que podemos ir discernindo aquilo que, no fundo nos é favorável ou não.
Ter essa atitude implica reconhecer que são as experiências de vida que nos permitem ir descobrindo quem verdadeiramente somos.
HÁ CINCO FERIDAS QUE NOS IMPEDEM DE SERMOS NÓS MESMOS : A ferida da rejeição, a do abandono. A da humilhação, a da traição e a da injustiça – palavras da terapeuta canadiana Lise Bourbeau.
A cada ferida corresponde uma máscara.
A ferida mais antiga é a da rejeição, aquela que mais cedo nos faz sofrer. A forma como evitamos que isso aconteça é fugindo, não enfrentando o que nos magoa. A seguir, vem a ferida do abandono. Quem a tem como ferida principal tende a ter um comportamento dependente. Segue-se a ferida da humilhação, a que corresponde a máscara do masoquista. Quem, desde criança, sofreu sobretudo de traição, disfarça a dor que continua a sentir sempre que essa ferida é activada, controlando tudo e todos. E a máscara criada por quem desde cedo sofreu de injustiça é a da rigidez.
Cada ferida resulta de uma longa acumulação de experiencias.
Todos nós temos maneiras de pensar ou crenças que nos impedem de ser aquilo que, no fundo, ambicionamos ser. E quanto mais essas máscaras nos magoam, mais tentámos escondê-las. Quanto mais uma determinada situação ou pessoa nos faz sofrer, mais o problema vem de longe. Criamos máscaras porque queremos esconder, de nós próprios ou dos outros, algo que ainda não quisemos enfrentar.
Essas máscaras são fortes na proporção da gravidade e profundidade da ferida. E a frequência com que as usamos depende da frequência com que a ferida é activada e do grau de sofrimento consequente. Só as usamos, no entanto, quando nos queremos proteger de alguém ou de alguma situação que, ainda hoje, nos faz sofrer.
Só através de uma atitude interior que não seja de revolta face aos acontecimentos da vida é que podemos ir discernindo aquilo que, no fundo nos é favorável ou não.
Ter essa atitude implica reconhecer que são as experiências de vida que nos permitem ir descobrindo quem verdadeiramente somos.
Lise Bourbeau
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
eternidade
Se o vires, diz-lhe que o tempo dele não passou;
que me sento na cama, distraída, a dobar demoras
e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós.
Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por
causa dos outros laços que não desfaço, sei que o
amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se
o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou;
que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso
sempre, mas não demais; e que os invernos que ele
não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos
separam, escondem a minha nuca na gola do casaco,
mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires,
diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre.
Maria do Rosário Pedreira
a minha palavra favorita, Edição Jorge Reis-Sá, Centro Atlântico, Lisboa, 2007
que me sento na cama, distraída, a dobar demoras
e, sem querer, talvez embarace as linhas entre nós.
Mas que, mesmo perdendo o fio da meada por
causa dos outros laços que não desfaço, sei que o
amor dá sempre o novelo melhor da sua mão. Se
o encontrares, diz-lhe que o tempo dele não passou;
que só me atraso outra vez, e ele sabe que me atraso
sempre, mas não demais; e que os invernos que ele
não gosta de contar, mas assim mesmo conta que nos
separam, escondem a minha nuca na gola do casaco,
mas só para guardar os beijos que me deu. Se o vires,
diz-lhe que o tempo dele não passa, fica sempre.
Maria do Rosário Pedreira
a minha palavra favorita, Edição Jorge Reis-Sá, Centro Atlântico, Lisboa, 2007
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