sábado, 15 de janeiro de 2011

MEDITAÇÃO COM NATUREZA MORTA

a Fátima Maldonado

a toalha de mesa surge no primeiro plano
e a pálpebra semiaberta de um fruto perde-se
no amargo traço de uma boca que assinala
o tempo

organizo
os frutos em sequência de cor
primeiro os azuis cobalto e os negros depois
os amarelos das ardentes fúcsias evocam
misteriosas presenças

pouso os pincéis perto da janela
avisto uma folha de revista à chuva e
no vento três pêssegos movem-se
ao fundo
as mãos líquidas revelando quem medita
sentado sob o melancólico pes da luz
que constroi e define a casa


Al Berto

O MEDO, Contexto, Lisboa, 1987

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