DO EXCESSO
Tu deslizas, tu moves
e tu escutas
tu lutas por escapar na tua rusga
Tu escusas de atentares
e de ficares
agachado no silêncio à minha escuta
Tu, doce ou agressivo,
tanto monta
Tu monte ou mar
tanto se usa
Se aí ficas preso
nesse esgar
a tentar entender a minha fuga
Tu partes e regressas
estás atento
a cada gesto feito à minha beira
Dispões o disponível
e não despes
senão o que tu queres e eu não queira
Tu escutas o escusado
e só no excesso
me encontrarás a beijar-te o corpo todo
Sou eu que ponho aquilo
que tu vestes
e disponho daquilo que tu escondes
Tu, rápido, exacto
e – por que não? – perdido
rasgado no meu peito o tempo todo
Irás descobrir-me
na paixão
Pois só aí eu sou
e aí me encontro
Maria Teresa Horta
Destino, Quetzal Editores, Lisboa, 1998
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