terça-feira, 17 de maio de 2011

DO EXCESSO

Tu deslizas, tu moves
e tu escutas
tu lutas por escapar na tua rusga

Tu escusas de atentares
e de ficares
agachado no silêncio à minha escuta

Tu, doce ou agressivo,
tanto monta

Tu monte ou mar
tanto se usa

Se aí ficas preso
nesse esgar
a tentar entender a minha fuga

Tu partes e regressas
estás atento
a cada gesto feito à minha beira

Dispões o disponível
e não despes
senão o que tu queres e eu não queira

Tu escutas o escusado
e só no excesso
me encontrarás a beijar-te o corpo todo

Sou eu que ponho aquilo
que tu vestes
e disponho daquilo que tu escondes

Tu, rápido, exacto
e – por que não? – perdido
rasgado no meu peito o tempo todo

Irás descobrir-me
na paixão

Pois só aí eu sou
e aí me encontro


Maria Teresa Horta

Destino, Quetzal Editores, Lisboa, 1998

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