"Falei de Rainer Maria Rilke. É curioso que Lou Andreas-Salomé, que seria sua amante, diria, a propósito da sua relação: «Todos os homens, não importa quando os conheci, sempre parecem esconder um irmão. Realmente, também a obra de Rilke está marcada pela presença da ausência e até, em determinados momentos, como em Requiem, o poeta parece advertir sobre a necessidade da morte não ficar a rondar...como ficou, no eixo da sua própria vida.
Teriam os meus pais projectado sobre mim o receio de uma morte prematura? Viveria com a responsabilidade de realizar a vida de outro? Teria existido acompanhado sempre por esse fantasma de um gémeo enterrado? Certo é que, quando nasci, era um bebé do sexo masculino como o meu irmão morto e, consequentemente, recebi o seu nome.
Ah, mas já volveram tantos anos. E assim, a esta distância, não deixa de ser irónico que tenha sobrevivido ao primeiro tiro. Foram precisas duas balas para me matar, como se, em mim, fôssemos dois. Por fim, ainda agonizei já depois do segundo disparo. Eu, que tinha vivido morto, estava vivo na minha própria morte..."
Maníacos de Qualidade, Portugueses Célebres na Consulta com uma Psicóloga, editado pela Esfera do Livro, 2010.
Maníacos de Qualidade, Portugueses Célebres na Consulta com uma Psicóloga, editado pela Esfera do Livro, 2010.
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