Um belo poema de Juan Luis Panero (e que nos fala das naturezas mortas de Zurbarán). Tradução de Joaquim Manuel Magalhães.
FUMO AO ENTARDECER
Depois de ter cheirado o perfume agridoce da morte,
depois de tantos corpos e paixões e sonhos,
olho agora, sobre a mesa, um copo vazio,
uns livros, papeis em desordem, velhas fotografias,
a luz do entardecer, apagando-se na janela.
Como numa natureza de Zurbarán
- a natureza morta, a natureza eterna -,
deixo-me viver já sem perguntas,
enquanto o fumo do cigarro desenha
todos os meus rostos: o que fui, o que sou,
o que serei, no frágil e caprichoso tempo.
deixo-me viver já sem perguntas,
enquanto o fumo do cigarro desenha
todos os meus rostos: o que fui, o que sou,
o que serei, no frágil e caprichoso tempo.
Relógio D'Água, Lisboa, 2003
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