III
Vinte Anos
As vozes instrutivas exiladas...a ingenuidade física amargamente aquietada...Adágio. Ah! o egoísmo infinito da adolescência, o optimismo estudioso: como o mundo estava em flor, nesse verão! O ar e as formas morriam...Um coro, para acalmar a impaciência e a ausência! Um coro de bebidas e melodias nocturnas... Com efeito: os nervos vão já pôr-se à cata.
Ainda vais na tentação de António. As correrias do zelo infantil, os tiques do orgulho pueril, a fraqueza e o pavor. Mas perfarás este trabalho: todas as possibilidades harmónicas e arquitecturais te rodearão emocionadas. Criaturas perfeitas, imprevistas, se oferecerão às tuas experiências. Das cercanias afluirá sonhadora a curiosidade de antigas multidões e de luxos indolentes. Tua memória e teus sentidos serão só alimento do teu impulso criador. Quanto ao mundo, que será feito dele, quando saíres? Em todo o caso, nada conservará das aparências actuais.
Jean-Arthur Rimbaud, Iluminações Uma cerveja no inferno, Tradução, prefácio e notas de Mário Cesariny, Estúdios Cor, 1972
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