domingo, 6 de maio de 2012

Poema de Christina Rossetti

Recorda-me quando eu já tiver partido,
Partido longe adentro da terra silente,
Quando não mais a mão me possas dar,
Nem eu, semi-virar-me para ir, e ao virar-me ficar.

Recorda-me quando não mais, dia a dia,
Me contares o nosso futuro que planeaste:
Recorda-me apenas. Compreendes,
Já será tarde para dar conselhos ou rezar.

Porém, se por um momento me esqueceres
E depois recordares, não lamentes:
Pois se o escuro e a corrupção deixarem
Um vestígio dos pensamentos que uma vez tive,
É de longe melhor que esqueças e sorrias
Que por recordar entristeças.


Os Pré-Rafaelitas, antologia poética, Assírio&Alvim, 2005

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Poema de Dante Gabriel Rossetti

cançãoV

UM POUCO DE TEMPO


Um pouco de tempo, um pouco de amor,
A hora pacienta ainda por ti e por mim
Que não retirámos o véu para ver
Se o nosso céu ainda se acende lá em cima.
Tu apenas, ao último suspiro do dia,
Sentiste a tua alma prolongar o som;
E eu ouvi o vento nocturno gritar
E julguei que era minha a fala dele.

Um pouco de tempo, um pouco de amor,
O Outono disseminador entesoura para nós
Cujo aposento não está ainda arruinado
Nem desfolhado o nosso bosque sem canções.
Apenas através dos ramos agitados
Ouvimos as marés que buscam o mar,
E fundo acordam nos nossos dois corações
Um lamento por ti e por mim.

Um pouco de tempo, um pouco de amor,
Pode ainda ser nosso que não dissemos
A palavra que nos atemoriza os olhos
O saber o que cada um está a pensar.
Ainda não no fim: emudeçam-nos os lábios
Em sorrisos por uma breve estação ainda:
Eu dir-te-ei, quando o fim chegar,
Como melhor poderemos olvidar.


Os Pré-Rafaelitas, antologia poética, Assírio&Alvim,2005