segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Dois poemas de Al Berto



ao Jacinto


se te nomeasse cintilarias
no beco duma cidade desfeita
e o chumbo dos labirintos derreter-se-ia
na veia branca da noite uma estátua
de areia talvez um barco sulcasse
a cabeleira aquática da fala e
nenhuma porta se abriria sob teus passos


onde estamos? onde vivemos?
no desaguar tenebroso deste rio de penumbra
não beberemos ao futuro do homem
nem festejaremos o rugido triste da fera
moribunda



mas se te nomeasse
que desejo de sexo e da mente a medrosa alegria
em mim permaneceria?




O MEDO, Contexto, 1987, Lisboa.

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