“ Uma obra de Arte é boa quando
nasce de uma necessidade”
Rainer Maria Rilke
A
Eduarda (escritora Eduarda Chiote) tinha-me avisado: Gracinha, tu vais
chorar muitas vezes ao ver o filme do Quim Zé! Eu chorei, é verdade, mas talvez
por razões diferentes das que a Eduarda imaginaria! Eu chorei como choro ao
ouvir a Sonata a Kreutzer de Beethoven ou Tristão e Isolda de Wagner. Eu choro
perante a evidência da BELEZA, eu choro com o excesso dessa beleza. E o filme
do Joaquim Pinto é a BELEZA TOTAL. É um filme filosófico que me transporta para
as palavras da filósofa Maria Zambrano nos seus livros “A Metáfora do Coração”
ou “Clareiras do Bosque”. E porquê? Porque o filme de Joaquim Pinto ao focar
uma libélula, um caracol ou lesma, os pássaros agitados, um pássaro morto,
vermes, coelhos mortos, moscas, mosquitos, abelhas, todos na sua sobrevivência,
no seu tempo de vida, REVELA-NOS o
renascer constante da natureza e a sua morte, o tempo, a destruição: Está a falar
da VIDA! Da vida de todos nós, do planeta, das pessoas, da nossa condição
precária, da nossa frágil imunidade. Mas não só, mais importante que tudo o que
se revela neste filme tão poético e com imagens belíssimas é a consciência do
AMOR! E só quem experienciou o amor, o pode reconhecer. O amor atravessa este filme do princípio ao
fim. E essa felicidade, é a maior dádiva. Como diz Joaquim Pinto são tralhas a mais,
muita tralha que não vale a pena. A vida é imprevisível, é a realidade! Qualquer
um de nós pode morrer amanhã, atropelado, na queda de um avião, num atentado,
esfaqueado num assalto, um ataque cardíaco, um tiro numa cena de ciúmes, um
acidente de automóvel, um simples mergulho no mar ou numa piscina, infectado
com um vírus, uma picada de mosquito, tanta coisa, mas também já dizia Maria
Gabriela Llansol: “Aquele que não amou vai prestar contas aos Deuses”.
A troca de amor, o afecto protector
que nos aparece no filme de Joaquim Pinto, não como uma ficção mas como uma
vivência real é a MAIOR beleza deste
filme, assim como o instinto de sobrevivência. Tratamentos de choque e a
resistência para continuar porque o outro, aquele que está ao nosso lado,
continua ali, atentamente, à nossa espera, ao nosso acordar. E se quisermos
procurar essa história das mensagens, então a mensagem que me foi revelada é a
de que andamos a perder tempo. A VIDA existe em toda a sua plenitude à nossa
volta, seja na natureza e nos seus ciclos de vida, seja na beleza encontrada na
pessoa que amamos, independentemente do seu género. Parabéns Joaquim Pinto
(queridos Quim Zé e Nuno). A tua poética
já revelada nos belíssimos filmes “Onde bate o Sol” e “Uma pedra no bolso” é o
fio condutor de todo um programa que aqui atinge o ponto máximo, com as suas
imagens autobiográficas, políticas e sempre ligadas à natureza e à vida real.
PARABÉNS!
Graça Martins
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