"Mesmo os que gostavam muito de Clarice a achavam cansativa. Ela evocava nos outros uma sensação de protecção, uma ânsia de a ajudar no seu grande sofrimento, embora os amigos deixassem bem claro que ela não lhes pedia nada. "era mais um sentimento que ela despertava na gente", disse Rosa Cass. E a carência de Clarice era extenuante. Tati de Moraes, a primeira das nove mulheres de Vinícius de Mora...es, perguntou uma vez a Rosa: "Há quanto tempo você é amiga de Clarice? Porque ninguém aguenta isso muito tempo."
A nível artístico e intelectual, Clarice era absolutamente independente, mas a nível emocional era tão dependente como uma criança. Nos seus livros de apontamentos pessoais, ela falava da dificuldade de se relacionar com as outras pessoas:
"Me perguntei se eu não evito aproximação com as pessoas por medo de vir a odiá-las. Com todo o mundo me dou mal. Eu não tenho tolerância. Ela me disse (...) que sou uma pessoa difícil de dar carinho. Respondi: bem, não sou o tipo que inspira carinho. Ela: você quase que empurra a mão que lhe dão para ajudar. Às vezes você precisa de ajuda, mas não pede."
Clarice não diz o nome da mulher com quem estava a ter esta conversa, mas o tom sugere uma terapeuta, Inês Besouchet, ou a mulher que ela começou a consultar no início de 1968, Anna Kattrin Kemper, conhecida por Catarina. Kemper era uma amiga alemã de Inês Besouchet e de Hélio Pellegrino, e tinha vindo para o Rio de Janeiro depois da guerra.
Clarice tinha vergonha ou sentia-se inquieta, pelo facto de fazer psicanálise, e não queria que essa informação se tornasse pública."
CLARICE LISPECTOR, Uma Vida, Benjamin Moser, Civilização Editora, 2009.
A nível artístico e intelectual, Clarice era absolutamente independente, mas a nível emocional era tão dependente como uma criança. Nos seus livros de apontamentos pessoais, ela falava da dificuldade de se relacionar com as outras pessoas:
"Me perguntei se eu não evito aproximação com as pessoas por medo de vir a odiá-las. Com todo o mundo me dou mal. Eu não tenho tolerância. Ela me disse (...) que sou uma pessoa difícil de dar carinho. Respondi: bem, não sou o tipo que inspira carinho. Ela: você quase que empurra a mão que lhe dão para ajudar. Às vezes você precisa de ajuda, mas não pede."
Clarice não diz o nome da mulher com quem estava a ter esta conversa, mas o tom sugere uma terapeuta, Inês Besouchet, ou a mulher que ela começou a consultar no início de 1968, Anna Kattrin Kemper, conhecida por Catarina. Kemper era uma amiga alemã de Inês Besouchet e de Hélio Pellegrino, e tinha vindo para o Rio de Janeiro depois da guerra.
Clarice tinha vergonha ou sentia-se inquieta, pelo facto de fazer psicanálise, e não queria que essa informação se tornasse pública."
CLARICE LISPECTOR, Uma Vida, Benjamin Moser, Civilização Editora, 2009.
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