Trata-se da década da contestação interna, e da reflexão da sociedade sobre si própria, questionando os valores das instituições em geral e da guerra colonial em particular a revolta estudantil de 1969, um ano após o Maio de 68 (...) As canções de protesto, as canções contra a guerra, os cabelos compridos, a liberdade sexual, o uso de estupefacientes e a forma de se vestirem - dos "blusões pretos" aos "teddy-boys", passando pelos "beatniks" e os "hippies" - eram as manifestações mais estridentes da recusa radical das novas gerações -intelectuais e artistas em articulações mais ou menos efectivas com as comissões de moradores e o operariado mais esclarecido - à sociedade de que eram herdeiros. Os objectivos de aspiração desta geração opunham-se ao dos seus progenitores, deslumbrados com o automóvel, os electrodomésticos e as férias. A crítica das novas gerações ao paradigma do crescimento continuado e da evolução tecnológica à custa da apropriação de recursos naturais inesgotáveis, do trabalho do colonizado e das classes analfabetas do campo ou recém-urbanizadas, estendia-se agora ao modo como esta mesma sociedade passara a organizar também o não trabalho. A crítica às formas estereotipadas de distracção e cultura denuncia as novas indústrias da comunicação e o controlo que estas exercem sobre os indivíduos - os programas de televisão, de férias, etc.
As novas gerações criticaram a sociedade de consumo, alienatória na medida em que o indivíduo não pode desenvolver as suas capacidades criadoras, o stablishement crítica e receia os comportamentos evasivos e alienados dos jovens que se organizam em comunas regidas por outras formas sociais.
De uma maneira ou de outra, toda a sociedade projectava mudanças. Implicava-se.
Eglantina Monteiro
Porto, 19 de Abril 2014
(Catálogo da Exposição Álbum de Fotografias Portugal 1969-1979, MIRA FORUM).
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