Somos de natureza contrária
Um de nós pode destruir o outro,
mas só por fora, uma onda que vem
de muito longe, demora a chegar
à praia, ao sol que sossobra...
no lugar onde nós estamos,
entregues, entristecidos. Dentro,
no interstício de silêncio
ameaçado pela despedida, sempre
de despedida ameaçado, nenhum
de nós será destruído ninca,
a memória da rua com plátanos,
o pólen mordente da primavera,
o cântico dos pardais. Não,
eu não quero esse amor indeciso
que sossobra num frio inebriante:
cada um com o outro tenta conservar
o seu ser, a identidade que sorri
na janela do quarto que fica por fechar.
Joaquim Manuel Magalhães
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