
terça-feira, 8 de março de 2011
quinta-feira, 3 de março de 2011
NARCISO
Sur l'eau bleue et blonde
Et cieux et forêts
Et rose de l'onde
P. Valéry
"Quando me dizes 'Vem!', já eu parti
e já estou tão próximo de ti
que sou eu quem me chama e quem te chama
e é o meu amor que em ti me ama.
Se me olhas sou eu que me contemplo
longamente através do teu olhar
e moro em ti e sou o lugar
e demoro-me em ti e sou o tempo.
Eu sou talvez aquilo que me falta
(a alma se sou corpo, o corpo se sou alma)
em ti, e afogo-me na tua vida
como na minha imagem desmedida:
Sol, Lua, água, ouro,
horizontalidade, concordância,
indiferente ordem da infância,
união conjugal, morte, repouso."
Manuel António Pina, Cuidados Intensivos, Afrontamento, Porto, 1994
Poema com dedicatória de valter hugo mãe
maldição contra quem não ama quem deve
para a isabel de sá e para a graça martins
o grande amor da sua vida não era aquele homem. tinha-se guardado, quando nova, para um rapaz que vira retirar da mão uma flor. foi por ter visto tal magia que julgava virem as flores da vontade dele e lhe pôs o coração em pensamento. à noite, no silêncio mais absoluto, achava que por dentro o sangue revirava em espirais como pétalas juntando-se. e era verdade que o quarto se perfumava para espanto dos seus familiares. assim, casada com aquele homem, ela pensava apenas que um dia tudo mudaria. à custa dessa ideia, cortou-lhe a cabeça e viu-o morrer sem perder a convicção de que o futuro lhe traria a mais absoluta alegria.
contabilidade, poesia 1996-2010». alfaguara, novembro de 2010, capa com fotografia de nelson d'aires.
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Retratista da aristocracia britânica dos anos 20 foi pioneira na desmontagem do papel que a mulher representava na sociedade. Yevonde perturbou a conservadora sociedade britânica retratando as damas da alta sociedade como deusas gregas. Realizou trabalhos editoriais e publicitários, com clara influência surrealista. Iniciou a sua carreira como fotógrafa apenas com 21 anos.
Casa das Histórias - Cascais - exposição de obras seleccionadas por Paula Rego. Colecção do British Council.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
A FRESH START
- porquê? porquê?
e eu pequena, tal como na 3ª classe, timidamente a responder à professora.
Não tenho medo hoje porque o tempo passou. Da mesma forma que o nosso também. O nosso tempo passou e acabou e amanhã seremos duas pessoas adultas que se conhecem a dizer adeus. Com a maturidade da idade adulta sem o medo das crianças.
Inês Leitão
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Poema de Arthur Rimbaud
O QUE DORME NO VALE
É uma cova de verdura onde canta uma ribeira
Prendendo loucamente às ervas farrapos
De prata; nele brilha o sol, do alto da montanha
Orgulhosa: é um pequeno valado que espuma farpas.
Um soldado jovem, de boca aberta, cabeça nua,
E a nuca mergulhando nos frescos agriões azuis,
Dorme; está estendido na relva, a céu aberto,
Pálido no seu leito verde onde chove aluz.
Com os pés nos gladíolos, dorme. Sorrindo como
Sorriria uma criança doente, dorme um sono:
Natura, embala-o junto ao peito: ele está frio.
Não há perfume que faça estremecer suas narinas;
Dorme ao sol, a mão sobre o peito
Tranquilo. No lado direito, tem dois buracos vermelhos.
O RAPAZ RARO, iluminações e poemas, tradução de Maria Gabriela Llansol, Relógio D'Água, Lisboa, 1998
entro para a neblina.
Alameda vazia, silêncio.
Casas erguidas
para fazer um caminho.
Com o corpo todo à espera
chamo-te, sem saber o
nome, sem luz, sem imagem.
Fantasmas prolongam
os passos, adiam a casa.
Com o corpo todo à espera
silencio a vontade
de me aproximar, viver.
Respiro a humidade
do nevoeiro, sempre à espera.
JOÃO BORGES
AO VENTO EM TERRAMOTOS, edição cofre nocturno, Lisboa, 2011
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
14 DE FEVEREIRO - O TAL DIA
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Poema de JOÃO BORGES
A noite vem
em desarticulados caminhos
suspensos entre
insónia e vigília.
As pedras que acendem
entram e saem da minha pele,
deixam feridas.
A fogo rasgam as veias.
Atiro a escuridão para
a rua. Esmorece
a paisagem, flui o desejo.
Posso avançar
sobre as trevas.
AO VENTO EM TERRAMOTOS, edição cofre nocturno. lisboa, 2011