sábado, 9 de agosto de 2008

DANDISMO E ELITISMO

"Só nos temos a nós mesmos"Khnopff (pintor simbolista)

Outrora celebrado por Barbey d'Aurevilly e Baudelaire, o dandismo é uma atitude muito apreciada nos meios artísticos dos finais do século XIX. Copiando os antepassados românticos, jovens literatos como Rodenbach e Moréas afirmam a sua diferença pelo culto cuidado da aparência e da conduta. Este narcisismo, ilustrado por Oscar Wilde (Retrato de Dorian Gray) e pela divisa de Khnopff (só nos temos a nós mesmos), é reforçado pelo sentimento de pertencer a uma elite. Culto da distinção, encarnado pelo conde Robert de Montesquiou (1855-1921), modelo da personagem de Des Esseintes (ver Huysmans), o dandismo fim-de-século é também a afirmação de uma inadaptação ao mundo que conduz, na sua expressão literária, a trágica reclusão voluntária, um culto do raro e do artificial que corteja a monstruosidade e o sadismo. A época vê nascer as novas figuras do snob e do esteta. Preocupações mais concretas estão por vezes subjacentes ao elitismo: perante a "arte oclocrática" propagada em França por dois pletóricos salões anuais, Péladan opta por acolher as obras de uma "artisteia" rigorosamente escolhida. Em contraste com o desejo de publicidade, espíritos exigentes fazem gala da sua indiferença para com a multidão. Ao defender, desde 1862, uma poesia deliberadamente hermética à vulgaridade ("Heresias artísticas. A Arte para todos"). Mallarmé faz desta o último refúgio das almas nobres iniciadas e o santuário da religião da arte.

Laurent Houssais, historiador de arte.

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