EROS
"É preciso reinventar o amor" (Rimbaud)
"O amor nunca se misturou tanto com acrimónia, fel, desavenças e remorsos como na época do simbolismo", sublinha Ernest Raynaud (1864-1936) em La Mélée symboliste. Entre a pura fruição sensual, pela qual Mallarmé pretende encontrar "o pesado sono sem sonhos" e esse furor novo de castidade que leva os poetas a só quererem amar em imaginação, manifesta-se a partilha indecisa da alma e do corpo. Querendo responder a Rimbaud ("É preciso reinventar o amor"), o simbolismo irá constantemente espiritualizar a carne ou materializar o espírito. A androginia é uma das formas deste erotismo perverso.
"Efebo de castidade assassina", a princesa d'Este de Le Vice suprême, de Péladan (1884), é uma das heroínas ambíguas em cujas mãos o homem se transforma em instrumento submisso. O austríaco Sacher-Masoch (1836-1895), autor de A Vénus das Peles (1870), ilustra bem esta nova forma de amor a que o alienista Krafft-Ebbing viria a chamar"masoquismo". (Psychopathia sexualis, 1886). A luxúria e a morte sobrepõem-se. Ambivalência de Eros e Tanatos, sucessivamente encarnada por Salomé, Judite (ver Klimt) ou Cleópatra, tema recorrente na pintura (Munch).
Séverine Jouve, jornalista e escritora
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