domingo, 31 de agosto de 2008

Rita Hayworth atingiu o sucesso pleno na década de 1940, tornando-se símbolo sexual daquela era.
Após dançar com Fred Astaire em Bonita como nunca e Ao compasso do amor, e depois com Gene Kelly em Modelos, Rita Hayworth foi considerada uma das maiores dançarinas de Hollywood e a maior estrela romântica dos anos 40. Mas foi em 1946,no auge da sua beleza e com o clássico noir Gilda, ao lado de Glenn Ford, que Hayworth se transformaria na maior estrela da década e numa das mulheres mais desejadas e famosas do mundo.
Rita casou-se cinco vezes: a primeira com Edward C. Judson (1937-1943); a segunda com
Orson Welles (1943-1948) e tiveram uma filha: Rebecca Welles; a terceira com o príncipe Aly Khan (1949-1953) e, tiveram uma filha, a princesa Yasmin Aga Khan; a quarta com o cantor Dick Haymes (1953-1955), e a última com James Hill (1958-1961).

Para a atriz, o insucesso no amor era definido por ela como: "A maioria dos homens apaixona-se por Gilda, mas acorda comigo".
RITA HAYWORTH

A BELA RUIVA AMERICANA DE ASCENDÊNCIA
ESPANHOLA E IRLANDESA




A MAIS BELA RUIVA DO CINEMA

RITA HAYWORTH








sábado, 30 de agosto de 2008


Cartas a um poeta
Rainer Maria Rilke

Carta IX
Furnborg, Jonsered, Suécia,
4 de Novembro de 1904
Meu caro senhor kappus: Durante todo este tempo, em que não teve notícias, andei em viagem e estive muito ocupado. É-me ainda difícil escrever: cartas numerosas cansaram-me a mão. Se pudesse ditar, dir-lhe-ia muitas coisas; mas, como não posso, aceite estas poucas palavras como resposta à sua longa carta.Penso tantas vezes em si, meu caro senhor Kappus, concentro de tal forma os meus votos sobre a sua vida, que , de qualquer modo, isto deveria ajudá-lo. Bem pelo contrário, duvido muitas vezes de que as minhas cartas lhe sejam benéficas. Não me diga que o são. Aceite-as simplesmente, sem me agradecer demasiado, e deixe agir o tempo.Talvez não seja necessário entrar no pormenor do que me diz. Tudo o que poderia dizer-lhe sobre as suas tendências para a dúvida, sobre as dificuldades que tem em conciliar a sua vida exterior com a sua vida interior, ou sobre quaisquer outras dificuldades, já lho disse. Apenas posso formular, uma vez mais, o voto de que possa encontrar em si próprio paciência bastante para suportar a simplicidade bastante para crer. Confie-se cada vez mais à sua solidão e a tudo o que é difícil. Quanto ao resto, tenha confiança na vida. Acredite: a vida tem sempre razão.Pelo que diz respeito a sentimentos, puros são todos os sentimentos em que concentra todo o seu ser e que o elevam; impuros, todos aqueles que apenas correspondem a uma parte de si próprio e por consequência o deformam. Tudo o que pensa quando se reporta à sua infância - é bom. Tudo o que faz de si mais do que era até então nas suas melhores horas - é bom. Se toda a sua substância nela participar, toda a exaltação é boa, desde o momento que não seja simples perturbação ou embriaguez mas alegria clara e transparente.Compreende o que quero dizer? A sua própria dúvida, se a educar, poderá tornar-se uma coisa salutar, isto é, transformar-se em instrumento de conhecimento e selecção. Pergunte-lhe, cada vez que a vir tentada a estragar qualquer coisa, por que razão acha essa coisa feia. Exija-lhe provas. Observe-a: vê-la-á talvez desorientada, em busca de uma pista. Sobretudo, não abdique nunca. Não se esqueça nunca de perguntar-lhe as suas razões. Virá o dia em que a dúvida, essa destruidora, se transformará num dos melhores artífices - o mais inteligente, talvez, de todos os que trabalham na construção da sua vida.Eis meu caro senhor Kappus, tudo o que por hoje posso dizer-lhe. Mando-lhe, pelo menos correio, uma tiragem especial de um poema que acabo de publicar na Deutsche Arbeit, de Praga. Nesse poema continuo a falar-lhe da Vida e da Morte, duas coisas grandes e magníficas. Seu
Rainer Maria Rilke


THE LOVE BOX de ISABEL DE SÁ




MARÍA ZAMBRANO
A Metáfora do Coração e outros escritos
(...)O amor transcende sempre, é o agente de toda a transcendência. Abre o futuro; não o porvir, que é o amanhã que se pressupõe certo, repetição com variações do hoje e réplica do ontem. O futuro essa abertura sem limite, para outra vida que nos aparece como a vida de verdade. O futuro que atrai também a História.
Mas o amor lança-nos para o futuro, obrigando-nos a transcender tudo o que concede. A sua promessa indecifrável desacredita tudo o que consegue, toda a realização. O amor é o agente de destruição mais poderoso, porque, ao descobrir a inanidade do seu objecto, deixa livre um vazio, um nada que é aterrador no princípio de ser apercebido. É o abismo em que se some não somente o amado, mas a própria vida, a própria realidade do que ama. É o amor que descobre a realidade e a inanidade das coisas, e que descobre o não ser e até o nada.
(...)A consciência aumenta após um desengano de amor, como a própria alma se dilatara com o seu engano.
Mas não existe engano algum no amor, que, por o haver, obedece à necessidade da sua essência. Porque, ao descobrir a realidade no duplo sentido do objecto amado e do que ama, a consciência de quem ama não sabe situar essa realidade que a transcende. Se não houvesse engano, não haveria transcendência, porque permaneceríamos sempre encerrados dentro dos mesmos lomites.
(...)Pois o amor que integra a pessoa, agente da sua unidade, condu-la à sua entrega; exige fazer do próprio ser uma oferenda, isso que é tão difícil de dizer hoje: um sacrifício. E este abatimento que há no próprio centro do sacrifício antecipa a morte. O que verdadeiramente ama, aprende a morrer. é uma verdadeira aprendizagem para a morte.
(...) O amor aparecerá perante o olhar do mundo na época moderna como amor-paixão. Mas essa paixão, essas paixões, quando se dão realmente, serão, têm sido sempre, os episódios da sua grande história semi-escondida. Estações necessárias para que o amor possa dar o seu último fruto, para que possa actuar como instrumento de consumação, como fogo que depura e como conhecimento.
María Zambrano, filósofa, tradução de José Bento, ASSÍRIO & ALVIM
Cena de Gata em Telhado de Zinco Quente
com Paul Newman e Elizabeth Taylor



Duas cenas de Há lodo no Cais com Marlon Brando



sexta-feira, 29 de agosto de 2008

DOIS FILMES ETERNOS
Gata em Telhado de Zinco Quente de Richard Brooks com argumento de Tennessee Williams e Há Lodo no Cais de Elia Kazan com argumento de Budd Schulberg





A BELEZA DE PAUL NEWMAN





PAUL NEWMAN
Rebelde, duro ou sensível, Paul Newman foi, para lá do ideal de beleza masculina que corporizou com rara longevidade, um dos mais belos. Mas a beleza - que foi sua, quer nos anos de juventude, quer nos anos de maturidade - foi por vezes também, ele próprio o assumiu, um obstáculo ao seu crescimento como actor. Várias vezes ao longo da sua carreira, Paul Newman confessou a sua pena por não ter o dom da versatilidade de nomes grandes como Laurence Olivier ou Alec Guinness. Lee Strasberg terá mesmo dito que, não fôra Newman tão bonito, e a densidade das suas interpretações teria sido bem diferente, porventura próxima da marca pessoalíssima que Marlon Brando deixou quando se envolvia a cem por cento num projecto.Nos primeiros anos, a semelhança física entre ambos foi, aliás, flagrante, sendo Newman não raras vezes confundido com ele nas ruas. Mais tarde, e com o seu habitual sentido de humor, confessaria ter dado algumas centenas de autógrafos - talvez meio milhar - em nome de Brando, por se sentir incapaz de defraudar as expectativas dos fãs que julgavam ter-se finalmente cruzado com o actor. Apesar do engano, nenhum o terá certamente levado a mal. Quem poderia?
No passado, como no futuro, serão sempre seus os mais belos olhos azuis da história do cinema.


Os mais belos olhos azuis da história do cinema
Paul Newman. É um dos últimos rostos de uma era que não voltará mais: uma era em que o estatuto de estrela estava reservado aos melhores


OBJECTOS DO QUOTIDIANO





Urinol de Duchamp


Machado,Instalação de Isabel de Sá

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Retrato e auto-retrato na obra de Lucien Freud

Auto-retratos de Van Gogh, Modigliani,
Egon Schiele e LUCIEN FREUD








AUTO-RETRATOS DE LUCIEN FREUD


LUCIEN FREUD


Foto de Lucien Freud


O RETRATO

(...)O retrato fotográfico vem confrontar o sujeito com o horror e o fascínio de uma imagem especular fixa, da qual ele não pode fugir. Mas esse facto abre-lhe o acesso a todas as especulações sobre o seu Eu, fornecendo-lhe um espelho «manuseável». Esta especulação surge ao mesmo tempo que certos conceitos oriundos da psicanálise referentes à construção psíquica da identidade: a noção de Eu proposta por Freud, remete em última análise para uma instância de acção, nem sempre consciente, e a partir do qual o sujeito se posiciona ideologicamente, isto é, fictivamente/idealmente. É este «Eu» que o retrato paradoxalmente fornece e põe em causa; a imagem parada é sempre perturbante: ela nega o movimento, a mobilidade e plasticidade do eu, a possibilidade do arrependimento e do remorso, ela nega sobretudo a afirmação da vida, porque nos transforma em coisas. Esse corte temporal apenas nos surge no retrato fotográfico, pela natureza instantânea e capturante*.

(...)Finalmente não me parece defensável uma ideia de ruptura entre o retrato fotográfico e o retrato pintado. Será mais interessante defender uma «aceleração» dos processos de questionamento do indivíduo e da angústia de morte subsquente, como factores que priviligiam o sucesso e determinam a diferença do retrato fotográfico. A velocidade de construção mecânica e a «colagem à realidade» dão ao retrato fotográfico a possibilidade de se tornar num instrumento imediato de acção não exigindo todo o trabalho de construção artesanal a que a pintura obriga. Neste sentido poderíamos estabelecer um paralelo entre as duas técnicas de retrato e dois modelos de pensamento: enquanto o retrato pintado implica uma transformação do mundo pelo pensamento ( a matéria pela ideia), o retrato fotográfico apenas exige, aparentemente, uma acção imediata do sujeito sobre esse mundo, no sentido da sua completa assimilação.

*Este aspecto «mortífero» é para Barthes a questão central:«O Fotógrafo tem de lutar imenso para que a fotografia não seja a Morte. Mas eu, objecto, não luto. (...)assim que me descubro no produto desta operação, aquilo que vejo é que me tornei Todo-Imagem, ou seja, a Morte em pessoa. Os outros- desapropriam-me de mim próprio, fazem ferozmente de mim um objecto, têm-me à sua mercê, à sua disposição, arrumado num ficheiro, preparado para todos os truques subtis.» Barthes 1980

Margarida Medeiros, Fotografia e Narcisismo - O Auto-Retrato Contemporâneo


Pilares da NATIONAL GALLERY em Edimburgo, Escócia
As célebres LATAS DE SOPA CAMPBELL que inspiraram
ANDY WARHOL


Mais um poema de ALLEN GINSBERG

Um Supermercado na Califórnia

Que pensamentos tenho de ti esta noite, Walt Whitman, porque desci as ruas laterais debaixo das árvores com uma dor de cabeça auto-consciente olhando para a lua cheia.
Na minha fadiga faminta, e querendo comprar imagens, entrei no supermercado de fruta com néon, sonhando com as tuas enumerações!
Que pêssegos e que penumbra! Famílias inteiras fazendo compras à noite! Corredores cheios de maridos! Mulheres nos abacates, bebés nos tomates!- e tu, Garcia Lorca, que estavas a fazer ao pé das melancias?

Vi-te , Walt Wihtman, sem filhos, velho comilão solitário, apalpando as carnes no frigorífico e deitando o olho aos marçanos.
Ouvi-te fazer perguntas a todos: Quem matou as costelas de porco? O preço das bananas?
És o meu Anjo?
Vagueei por entre as pilhas brilhantes de latas seguindo-te, e seguido na minha imaginação pelo detective da casa.
Percorremos juntos os grandes corredores na nossa fantasia solitária provando alcachofras, tirando todos os manjares congelados, e sem nunca passarmos pela caixa.

Aonde é que vamos, Walt Whitman? As portas fecham dentro de uma hora. Que caminho a tua barba aponta hoje?
(Toco no teu livro e penso na nossa odisseia no supermercado e sinto-me absurdo).
Passearemos toda a noite por ruas solitárias? As árvores juntam sombra com sombra, luzes nas casas, estaremos os dois solitários.
Sonhando com a perdida América de amor passaremos por automóveis azuis estacionados, a caminho da nossa casa silenciosa?
Ah, querido pai, barba grisalha, velho e solitário mestre de coragem, que América tiveste quando Charon deixou de empurrar o seu barco e tu desceste para a margem enfumarada e ficaste a vê-lo desaparecer nas águas do Lethe?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

AMERICAN FLAG DE MAPPLETHORP



Novíssima Poesia Norte-Americana
ALLEN GINSBERG
AMÉRICA

América dei-te tudo e agora não sou nada
América dois dólares e vinte e sete cêntimos em 17 de Janeiro de 1956
Não aguento a minha própria mente.
América quando poremos fim à guerra entre os homens?
Vai-te lixar com a tua bomba atómica.
Não me sinto nada satisfeito não me chateies.
Não vou escrever o meu poema enquanto não estiver perfeitamente equilibrado.
(...)
América porque estão as tuas bibliotecas cheias de lágrimas?
América quando é que enviarás os teus ovos para a Índia?
Estou farto das tuas exigências loucas.
Quando poderei eu entrar no supermercado e comprar tudo
o que preciso com a minha beleza?
(...)
Continuarei como Henry Ford as minhas poesias são tão
pessoais como os seus automóveis mais ainda pois
são de sexos diferentes.
América vou vender-te poemas a 2 500 dólares, 500 dólares
de sinal para a tua epopeia.




POEMA DE MÁRIO CESARINY

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

TODOS OS DIAS SÃO NORMAIS

A manhã serve para arrumar a noite anterior. Dar-lhe um pontapé para um canto do quarto, deixá-la esquecida até mais ver. Há que correr entre o tomar banho, o vestir, o tomar o pequeno-almoço de pé, a olhar para fora da janela a ver sabe-se lá o quê, são coisas de que ninguém se lembra. Vestir o casaco, arrumar o que se quer levar, sair e fechar a porta à chave. A rua é sempre cinzenta, não interessa em que parte do dia se está. Percorro-a a andar depressa, como se estivesse atrasado para o comboio, e estou atrasado, mas não é para o comboio. Por vezes tenho muita pena de não sair de casa com tempo suficiente para percorrer as ruas devagarinho, reparar nos prédios antigos com azulejos que já não se usam, reparar nas clarabóias, reparar nas portas altíssimas de madeira envernizada sucessivas vezes, grades pintadas e vidros atrás, ainda que raramente se veja uma pessoa em vez do vidro, a olhar cá para fora, como se tivesse saudades da vida. Os carros fazem música quando aceleram, com mais pressa do que eu. Levantam poeiras várias, e deixam fumo cinzento evanescente atrás de si, como que a prolongar a sua presença. Quando o semáforo lhes mostra a luz vermelha rosnam furiosamente para quem atravessa a passadeira, como eu. Quando tenho que esperar no passeio, os olhos ficam-me presos na sombra dos carros e na sombra das pessoas, como se não me interessasse saber quem é, apenas me interessasse o movimento.Estar no trabalho é um aborrecimento, é querer não estar no trabalho, é querer sair e atravessar de volta a estrada, voltar para casa, talvez para dormir de novo, talvez levantar do canto do quarto a noite anterior. A hora de almoço é igualmente frustrante, ainda que seja tempo dito livre, serve essencialmente para voltar para de onde se veio. Sair do trabalho, sim, é uma libertação. As ruas estão ainda mais cinzentas. Quando faz frio, por norma o ar é negro, e as fachadas são iluminadas pela luz dos candeeiros, cor-de-laranja ou branca. Sempre gostei dessas luzes, parecem ser um rasgão na realidade, um furo piedoso na escuridão.Quando chego a casa, encontro-a dentro de um silêncio confortável, e de uma escuridão reconfortante. Acendo as luzes só para não tropeçar nas mesas, nas estantes, nos livros pousados pelo chão por falta de espaço. Por norma ouço música, ou fico a ler um pouco, ou as duas coisas. Comer não é importante, é sobrevivência. Faz-se para não se ter fome, para não se morrer. Depois do jantar, no tempo que resta até se ir dormir de novo, é provavelmente a melhor altura para, se houver razões para isso, ir buscar ao canto do quarto a noite anterior, ou, quem sabe, o dia de hoje. Em boa verdade, a única altura de mim para mim é antes de me deitar, quando estou à vontade para, se quiser, não fazer nada. Nada que não seja sentar-me ou deitar-me, e ficar a olhar para o tecto, quase a esquecer-me que tenho vida. Um pouco antes de me enrolar nos lençóis, e caminhar para uma noite da qual não me lembrarei, ou para mais uma insónia que me custe o dia seguinte, onde tudo se repete da mesma maneira, pois todos os dias são normais.
João Borges
Porto, 12 de Maio de 2008

IMAGENS DO FILME METROPOLIS
DE FRITZ LANG