segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Poema de ISABEL DE SÁ

Dir-me-ás que a paixão se desfez,
que já esqueceste o nome e os poemas.

Dir-me-ás
que não queres a loucura
dos sentidos, que tens medo
e foges na direcção do pântano
onde o brilho da lama
serve a exclusão.

Entre nós o mundo, outro amor,
a curva da tua nuca e esse olhar
de quem acorda lentamente. De mim
o corpo defendia-se do escuro enquanto
o tempo sepultava na cinza a nossa pele.

Um lençol de sombra sobre as pernas
no tumulto onde ardia o coração.

Molhar as mãos de lágrimas só reacende
a mágoa de viver depois de ter acontecido.
Importa lembrar o sucesso, o esplendor
do instinto que nos levou ao encontro.

O Brilho da Lama, & etc, 1999, Lisboa

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