FILME - O Estranho Caso de Benjamin Button
Realizador: David Fincher
Realizador: David Fincher
Argumento: Eric Roth /Scott Fitzgerald
Com: Brad Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton, Taraji P. Henson, Jason Flemyng, Julia Ormond
Drama, Fantasia, Romance 2008
What if I told you that instead of gettin’ older, I was gettin’ younger than everybody else?
Com: Brad Pitt, Cate Blanchett, Tilda Swinton, Taraji P. Henson, Jason Flemyng, Julia Ormond
Drama, Fantasia, Romance 2008
What if I told you that instead of gettin’ older, I was gettin’ younger than everybody else?
Benjamin Button
David Fincher já nos habituou a um tipo de cinema memorável, com características próprias e pernas para andar durante muitos anos sem perder a consistência e a magia, como Seven (1995) ou Zodiac (2007). Mas nenhum dos seus filmes se pode comparar a esta história fantástica e bizarra de um homem que vê a vida e o tempo passar ao contrário, argumento escrito por Eri Roth. Baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, datado de 1921, O Estranho Caso de Benjamin Button segue a vida de um homem, Benjamin, que nasce velho e começa a rejuvenescer à medida que cresce, ao contrário de todas as outras pessoas. Em 1918, abandonado à nascença pelo pai, é encontrado por uma mulher que o recebe de braços abertos no seio de um lar de terceira idade. Benjamin atravessa uma infância difícil para um homem de cerca de oitenta anos: cresce junto a pessoas idosas, aparentemente iguais a si próprio, e apaixona-se por Daisy, a única criança que é capaz de o ver para além da velhice aparente. À medida que vai crescendo, Benjamin conhece pessoas e perde outras, começa a ficar mais novo e a trabalhar no alto-mar. Passa pela Rússia, onde conhece Elizabeth, o seu primeiro amor, e regressa mais tarde a Nova Orleães para reencontrar Daisy, já uma mulher e bailarina profissional. Acabam por se encontrar a meio, quando têm aparentemente a mesma idade, e vivem um romance que poderia durar para sempre, não fossem as leis da natureza e o estranho caso de Benjamin. Acompanhamos esta história a partir de um diário de Benjamin que Caroline, filha de Daisy, lê à mãe já no século XXI, no dia em que o furacão Katrina destrói Nova Orleães; e da narração do próprio personagem ao longo de todo o filme.
Benjamin Button atravessa a Segunda Guerra Mundial, a ascensão dos Beatles, o início da vida cosmopolita de Nova Iorque, cada vez mais novo mas também mais experiente. Conhece a vida ao contrário, começando por experimentar a velhice a acabando a experimentar ser criança. Brad Pitt interpreta este homem diferente que tem de enfrentar uma vida invulgar, surpreendente enquanto idoso, e encantador e inocente enquanto jovem. Partilha o ecrã com Cate Blanchett no papel de Daisy, numa interpretação segura e profunda. Juntos, protagonizam os momentos mais belos do filme, encontrando uma química que não tinha sido conseguida em Babel (2006). Vivem um amor possível durante aqueles escassos anos em que têm a mesma idade, mas impossível a partir do momento em que ela começa a envelhecer muito e ele a rejuvenescer muito. Por isso, queriam recordar-se um do outro como estavam naquele momento exacto, que talvez tenha sido a única coisa que durou para sempre, através da sua filha Caroline.
A melhor sequência do filme é encontrada na narração de Benjamin do acidente de Daisy, que acabou com a sua carreira de bailarina. Fincher foi buscar uma cadeia de acontecimentos que levaram à ocorrência daquele acidente, na qual se um desses factos se tivesse processado de forma diferente, talvez Daisy não tivesse sido atropelada. De forma genial, entramos na dinâmica do filme e somos absorvidos pelas cores quentes que transmitem a antiguidade da história e pelas belas e tranquilas paisagens que caracterizam as épocas retratadas. De realçar ainda a fantástica caracterização, tanto de Pitt como de Blanchett, que lhes permitiu viver as personagens nas diversas fases das suas vidas e interpretá-las com mais credibilidade; a banda sonora composta por Alexandre Desplat, amena e luminosa, que acompanha todo o filme; e alguns momentos mais leves e alegres, que dão equilíbrio ao drama retratado.
Foi a primeira vez que senti lágrimas prestes a caírem dos meus olhos, a ver um filme, no cinema, numa sala cheia de gente petrificada com o que acabara de ver. Não pela beleza da história ou do filme em si; antes pelo peso afectivo que tem sobre Benjamin e nós próprios, espectadores. A dor de ver partir todas as pessoas à sua volta, de sentir que está a tornar-se numa criança saudável à medida que todos os que ama começam a desaparecer. A dor de abandonar Daisy apenas porque não pode dar uma melhor vida à sua filha, porque não pode envelhecer com ela e morrer com ela; porque acabará por morrer como uma criança e ela merece mais do que isso. A dor de, numa primeira fase, nascer e crescer como uma pessoa idosa e amar Daisy como criança; e, numa segunda fase, morrer como um bebé nos braços de uma Daisy já idosa, não se recordando de toda uma vida que passara e deixara para trás, a não ser quando a olha nos olhos uma última vez.
Cada pessoa verá esta história com olhos diferentes, e sentirá de forma diferente o que ela transmite, pois o que verdadeiramente importa é o que se sente durante a visualização do filme. Mas é do senso comum a sua essência mágica, a profundidade que atinge, a emoção que transmite a cada frame, a cada momento. Não pode ser contado; tem de ser visto para ser acreditado. E a verdade é que acreditamos em tudo o que vemos. Encontramos uma nova forma de encarar a vida e a morte, o envelhecimento e o passar do tempo, como se, em vez de andarem para a frente, os ponteiros do relógio seguissem na direcção contrária. Mas parar, não se consegue parar o tempo.
Durante quase três horas, atravessamos cerca de oitenta anos da vida invulgar de Benjamin Button, praticamente sem darmos por isso, sem querermos que a experiência acabe, tentando ao máximo prolongar aquele momento. É um épico fantasista sobre o amor, a vida e a morte, o destino, os milagres, a diferença, a experiência, a dor, mas consegue ser também uma história real que nos toca bem no fundo. As expectativas eram elevadas, mas este O Estranho Caso de Benjamin Button conseguiu superá-las. É uma obra extraordinária – não só pelo argumento único como pela realização inteligente e serena de Fincher – que ficará para a história e se tornará, sem dúvida, num clássico do cinema. É intenso, mágico, brilhante, perfeito, único, em todos os aspectos. Não resta nada para dizer, senão que há coisas que duram para sempre, e este filme é uma delas.
O melhor: A magia e originalidade da história, a perfeição da sequência narrativa e um Brad Pitt versátil.
O pior: Ter apenas três horas de duração… As diferentes etapas da vida de Benjamin foram perfeitamente colocadas na linha temporal do filme, mas se ocupassem mais tempo, a experiência seria mais longa…
As frases:- We’re meant to lose the people we love. How else would we know how important they are to us?- You never know what’s comin’ for ya.- Our lives are defined by opportunities, even the ones we miss.- I hope you live a life you’re proud of. If you find that you’re not, I hope you have the strength to start all over again.- I was thinking how nothing lasts, and what a shame that is.
David Fincher já nos habituou a um tipo de cinema memorável, com características próprias e pernas para andar durante muitos anos sem perder a consistência e a magia, como Seven (1995) ou Zodiac (2007). Mas nenhum dos seus filmes se pode comparar a esta história fantástica e bizarra de um homem que vê a vida e o tempo passar ao contrário, argumento escrito por Eri Roth. Baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, datado de 1921, O Estranho Caso de Benjamin Button segue a vida de um homem, Benjamin, que nasce velho e começa a rejuvenescer à medida que cresce, ao contrário de todas as outras pessoas. Em 1918, abandonado à nascença pelo pai, é encontrado por uma mulher que o recebe de braços abertos no seio de um lar de terceira idade. Benjamin atravessa uma infância difícil para um homem de cerca de oitenta anos: cresce junto a pessoas idosas, aparentemente iguais a si próprio, e apaixona-se por Daisy, a única criança que é capaz de o ver para além da velhice aparente. À medida que vai crescendo, Benjamin conhece pessoas e perde outras, começa a ficar mais novo e a trabalhar no alto-mar. Passa pela Rússia, onde conhece Elizabeth, o seu primeiro amor, e regressa mais tarde a Nova Orleães para reencontrar Daisy, já uma mulher e bailarina profissional. Acabam por se encontrar a meio, quando têm aparentemente a mesma idade, e vivem um romance que poderia durar para sempre, não fossem as leis da natureza e o estranho caso de Benjamin. Acompanhamos esta história a partir de um diário de Benjamin que Caroline, filha de Daisy, lê à mãe já no século XXI, no dia em que o furacão Katrina destrói Nova Orleães; e da narração do próprio personagem ao longo de todo o filme.
Benjamin Button atravessa a Segunda Guerra Mundial, a ascensão dos Beatles, o início da vida cosmopolita de Nova Iorque, cada vez mais novo mas também mais experiente. Conhece a vida ao contrário, começando por experimentar a velhice a acabando a experimentar ser criança. Brad Pitt interpreta este homem diferente que tem de enfrentar uma vida invulgar, surpreendente enquanto idoso, e encantador e inocente enquanto jovem. Partilha o ecrã com Cate Blanchett no papel de Daisy, numa interpretação segura e profunda. Juntos, protagonizam os momentos mais belos do filme, encontrando uma química que não tinha sido conseguida em Babel (2006). Vivem um amor possível durante aqueles escassos anos em que têm a mesma idade, mas impossível a partir do momento em que ela começa a envelhecer muito e ele a rejuvenescer muito. Por isso, queriam recordar-se um do outro como estavam naquele momento exacto, que talvez tenha sido a única coisa que durou para sempre, através da sua filha Caroline.
A melhor sequência do filme é encontrada na narração de Benjamin do acidente de Daisy, que acabou com a sua carreira de bailarina. Fincher foi buscar uma cadeia de acontecimentos que levaram à ocorrência daquele acidente, na qual se um desses factos se tivesse processado de forma diferente, talvez Daisy não tivesse sido atropelada. De forma genial, entramos na dinâmica do filme e somos absorvidos pelas cores quentes que transmitem a antiguidade da história e pelas belas e tranquilas paisagens que caracterizam as épocas retratadas. De realçar ainda a fantástica caracterização, tanto de Pitt como de Blanchett, que lhes permitiu viver as personagens nas diversas fases das suas vidas e interpretá-las com mais credibilidade; a banda sonora composta por Alexandre Desplat, amena e luminosa, que acompanha todo o filme; e alguns momentos mais leves e alegres, que dão equilíbrio ao drama retratado.
Foi a primeira vez que senti lágrimas prestes a caírem dos meus olhos, a ver um filme, no cinema, numa sala cheia de gente petrificada com o que acabara de ver. Não pela beleza da história ou do filme em si; antes pelo peso afectivo que tem sobre Benjamin e nós próprios, espectadores. A dor de ver partir todas as pessoas à sua volta, de sentir que está a tornar-se numa criança saudável à medida que todos os que ama começam a desaparecer. A dor de abandonar Daisy apenas porque não pode dar uma melhor vida à sua filha, porque não pode envelhecer com ela e morrer com ela; porque acabará por morrer como uma criança e ela merece mais do que isso. A dor de, numa primeira fase, nascer e crescer como uma pessoa idosa e amar Daisy como criança; e, numa segunda fase, morrer como um bebé nos braços de uma Daisy já idosa, não se recordando de toda uma vida que passara e deixara para trás, a não ser quando a olha nos olhos uma última vez.
Cada pessoa verá esta história com olhos diferentes, e sentirá de forma diferente o que ela transmite, pois o que verdadeiramente importa é o que se sente durante a visualização do filme. Mas é do senso comum a sua essência mágica, a profundidade que atinge, a emoção que transmite a cada frame, a cada momento. Não pode ser contado; tem de ser visto para ser acreditado. E a verdade é que acreditamos em tudo o que vemos. Encontramos uma nova forma de encarar a vida e a morte, o envelhecimento e o passar do tempo, como se, em vez de andarem para a frente, os ponteiros do relógio seguissem na direcção contrária. Mas parar, não se consegue parar o tempo.
Durante quase três horas, atravessamos cerca de oitenta anos da vida invulgar de Benjamin Button, praticamente sem darmos por isso, sem querermos que a experiência acabe, tentando ao máximo prolongar aquele momento. É um épico fantasista sobre o amor, a vida e a morte, o destino, os milagres, a diferença, a experiência, a dor, mas consegue ser também uma história real que nos toca bem no fundo. As expectativas eram elevadas, mas este O Estranho Caso de Benjamin Button conseguiu superá-las. É uma obra extraordinária – não só pelo argumento único como pela realização inteligente e serena de Fincher – que ficará para a história e se tornará, sem dúvida, num clássico do cinema. É intenso, mágico, brilhante, perfeito, único, em todos os aspectos. Não resta nada para dizer, senão que há coisas que duram para sempre, e este filme é uma delas.
O melhor: A magia e originalidade da história, a perfeição da sequência narrativa e um Brad Pitt versátil.
O pior: Ter apenas três horas de duração… As diferentes etapas da vida de Benjamin foram perfeitamente colocadas na linha temporal do filme, mas se ocupassem mais tempo, a experiência seria mais longa…
As frases:- We’re meant to lose the people we love. How else would we know how important they are to us?- You never know what’s comin’ for ya.- Our lives are defined by opportunities, even the ones we miss.- I hope you live a life you’re proud of. If you find that you’re not, I hope you have the strength to start all over again.- I was thinking how nothing lasts, and what a shame that is.
Análise ao filme- Raquel Silva
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