Poema de João Borges
COISAS QUE ME ULTRAPASSAM
Daqueles dias em que acordo
e demoro horas até
finalmente me levantar.
É doloroso
reentrar no mundo.
Recuperar do apagão da manhã,
em apenas cinco minutos dizer
“Isto é a vida”
Deixar que o dia aconteça
e pereça sobre mim.
Esta noite talvez vá a algum bar,
rodeio-me de amigos
e perco a noção de como tudo
foi penoso.
Não percebo como
“Isto é a vida”
Ninguém me sabe dizer
que lugar é o meu.
Onde encaixam
os meus passos:
há sempre Douro e há sempre
Santa Catarina ou o Almada,
há sempre dormir em camas
que se transmutam.
Enfim, há sempre por
onde escapar.
Um dia, direi que estava
perdido.
Verei a beleza da chuva, absoluta.
Agarrei-me a um lugar
perdido no meu corpo, para não
me lembrar de coisas
que me ultrapassam.
Metáforas, sílabas: máscaras.
Nunca poderei sentir
isto por mais ninguém.
É inevitável que adormeça
mal e sobre ti.
Acorde desses
pequenos nadas,
dizendo
“Isto é a vida”
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Às vezes (também) me sinto a viver num limbo.
Os momentos nostálgicos e melancólicos existem nas almas sensíveis.
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