Poema de José Miguel Silva
Pelos beijos que poupei,
pelas pratas empenhadas,
pelas horas que não sei
onde foram derrubadas;
pelo breve candeeiro
que me tem encandeado,
pela falta de dinheiro
para o supermercado;
pela fuga dos amigos,
pela música calada,
pelos dias resumidos
ao encontro com o nada;
pelo pó da autoria
no fundo das estantes,
e pela miopia
dos soluços dominantes;
pela tinta nos meus dedos,
pelos passos sem destino,
pelos tojos e penedos
no meio do caminho;
pela vida dicionária,
exangue de ilusão,
e a arte solitária
de morrer do coração.
José Miguel Silva, in O Sino de Areia, Gilgamesh, Agosto de 1999.
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